O DilĂşvio
Há muitos dias já, há já bem longas noites
que o estalar dos vulcões e o atroar das torrentes
ribombam com furor, quais rábidos açoites,
ao crebro rutilar dos coriscos ardentes.Pradarias, vergéis, hortos, vinhedos, matos,
tudo desapar’ceu ao rude desabar
das constantes, hostis, raivosas cataratas,
que fizeram da Terra um grande e torvo mar.Ă€ flor do torvo mar, verde como as gangrenas,
onde homens e leões bóiam agonizantes,
imprecando com fĂşria e angĂşstia, erguem-se apenas,
quais monstros colossais, as montanhas gigantes.É aà que, ululando, os homens como as feras
refugiar-se vão em trágicos cardumes,
O mar sobe, o mar cresce. e os homens e as panteras,
crianças e reptis caminham para os cumes.Os fortes, sem haver piedade que os sujeite,
arremessam ao chĂŁo pobres velhos cansados.
e as mães largam. cruéis, os filhinhos de leite,
que os que seguem depois pisam, alucinados.Um sinistro pavor; crescente e sufocante,
desnorteia, asfixia a turba pertinaz:
ouvem-se urros de dor, e os que vĂŁo adiante
lançam pedras brutais aos que ficam pra trás.
Poemas sobre Touros
3 resultadosRomance
Fruto de solidĂŁo
preso Ă fronde do vento,
lua, tu nos dás
a medida do eterno,
essa altura que jogas
contra o espaço celeste
em nĂłs refere a terra,
que em nossa ânsia integras.
E ao nosso amor integras
tudo o que nĂŁo sofremos,
tudo o que nĂŁo tivemos
e apenas pressentimos,
em tua marcha sentimos
tudo o que nĂŁo teremos
e tudo o que já viveram
corações noutros tempos.
Flanco de solidĂŁo,
maçã casta e sensual
presa ao ramo oscilante
entre a alma e o carnal,
em ti, suprema altura,
os olhos vĂŁo reunindo
as trilhas do abandono
e alguns ecos da infância.Pata branca de touro
extraviada no azul.
Um Grande UtensĂlio de Amor
um grande utensĂlio de amor
meia laranja de alegria
dez toneladas de suor
um minuto de geometriaquatro rimas sem coração
dois desastres sem novidade
um preto que vai para o sertĂŁo
um branco que vem Ă cidadeuma meia-tinta no sol
cinco dias de angĂşstia no foro
o cigarro a descer o paiol
a trepanação do touromil bocas a ver e a contar
uma altura de fazer turismo
um arranha-céus a ripar
meia-quarta de cristianismouma prancha sem porta sem escada
um grifo nas linhas da mĂŁo
uma Ibéria muito desgraçada
um Rossio de solidĂŁo