Poemas sobre Verso de Manuel Maria Barbosa du Bocage

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Tu, VĂŁ Filosofia

Tu, vĂŁ Filosofia, embora aviltes
Os crentes nas visões do pensamento,
Turvo clarĂŁo de raciocĂ­nios tristes
Por entre sombras nos conduz, e a mente,
Rastejando a verdade, a desencanta;
Nem doloroso espĂ­rito se ilude,
Se o que, dormindo, creu, crĂŞ, despertando.
Até no afortunado a vida é sonho
(Sonho, que lá no fim se verifica),
E ansioso pesadelo em mim, que a choro,
Em mim, que provo o fel da desventura,
Desde que levantei, que abri, carpindo,
Os olhos infantis Ă  luz primeira;
Em mim, que fui, que sou de Amor o escravo,
E a vĂ­tima serei, e o desengano
Da suprema paixĂŁo, por ti cantada
Em versos imortais, como o princĂ­pio
Etéreo, criador, de que emanaram.

Sátira

Besta e mais besta! O positivo Ă© nada…
(Perdoa, se em gramática te falo,
Arte que ignoras, como ignoras tudo.)
Besta e mais besta! Na palavra embirro;
Que a besta anexa ao mais teu ser define.

Dás-me louvor servil na voz do prelo,
Grande me crĂŞs, proclamas-me famoso,
Excelso, transcendente, incomparável,
Confessas que d’Elmano a fĂşria temes…
E, débil estorninho, águias provocas,
Aves de Jove, que o corisco empunham!

És de rábula vil corrupta imagem;
Tu vendes o louvor, como ele as partes,
Mas ele na enxovia infâmias paga,
E tu, com tĂşstios, que aos caloiros pilhas,
Compras gravatas, em que a tromba enorme
Sumas ao dia, que de a ver se embrusca,
Qual em tenra mĂŁozinha esconde a face
Mimoso infante de papões vexado.
Útil descuido aos cárceres te furta,
À digna habitação de ti saudosa
(Digo, o Castelo), estância equivalente
Aos méritos morais, que em ti reluzem.

De saloios vinténs larápio sujo,
A glĂłria do teu Ăłdio restitui
A quem no teu louvor desacreditas.
Se honrada pelos sábios d’Ulisseia
(D’Ulisseia nĂŁo sĂł,

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A Rosa

Tu, flor de VĂ©nus,
Corada Rosa,
Leda, fragrante,
Pura, mimosa,

Tu, que envergonhas
As outras flores,
Tens menos graça
Que os meus amores.

Tanto ao diurno
Sol coruscante
Cede a nocturna
Lua inconstante,

Quanto a MarĂ­lia
TĂ© na pureza
Tu, que Ă©s o mimo
Da Natureza.

O buliçoso,
Cândido Amor
PĂ´s-lhe nas faces
Mais viva cor;

Tu tens agudos
Cruéis espinhos,
Ela suaves
Brandos carinhos;

Tu nĂŁo percebes
Ternos desejos,
Em vĂŁo FavĂłnio
Te dá mil beijos.

MarĂ­lia bela
Sente, respira,
Meus doces versos
Ouve, e suspira.

A mĂŁe das flores,
A Primavera,
Fica vaidosa
Quando te gera;

Porém Marília
No mago riso
Traz as delĂ­cias
Do ParaĂ­so.

Amor que diga
Qual Ă© mais bela,
Qual Ă© mais pura,
Se tu, ou ela;

Que diga VĂ©nus…
Ela aĂ­ vem…
Ai! Enganei-me,
Que Ă© o meu bem.

GratidĂŁo

A minha gratidão te dá meus versos:
Meus versos, da lisonja nĂŁo tocados,
Satélites de Amor, Amor seguindo
Co’as asas que lhes pĂ´s benigna Fama,
Qual nĂ­veo bando de inocentes pombas,
Os lares vĂŁo saudar, propĂ­cios lares,
Que em doce recepção me contiveram
Incertos passos da IndigĂŞncia errante;
Dos olhos vĂŁo ser lidos, que apiedara
A catástrofe acerba de meus dias,
Dos infortĂşnios meus o quadro triste;
VĂŁo pousar-te nas mĂŁos, nas mĂŁos que foram
TĂŁo dadivosas para o vate opresso,
Que o peso dos grilhões me aligeiraram,
Que sobre espinhos me esparziram flores,
Enquanto nĂŁo recentes, vĂŁos amigos,
Inúteis corações, volúvel turba
(A versos mais atenta que a suspiros)
No Letes mergulhou memĂłrias minhas.
Amigos da Ventura e nĂŁo de Elmano,
Aónio serviçal de vós me vinga;
Ao nome da Virtude o VĂ­cio core.

NĂŁo sei se vens de herĂłis, se vens de grandes;
NĂŁo sei, meu benfeitor, se teus maiores
Foram cobertos, decorados foram
De purpúreos dosséis, de márcios loiros;
Sei que frequentas da Amizade o templo,
Que Ă©s grande,

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