Mania da SolidĂŁo
Como um jantar frugal junto Ă clara janela,
Na sala já está escuro mas ainda se vê o céu.
Se saĂsse, as ruas tranquilas deixar-me-iam
ao fim de pouco tempo em pleno campo.
Como e observo o céu — quem sabe quantas mulheres
estão a comer a esta hora — o meu corpo está tranquilo;
o trabalho atordoa o meu corpo e também as mulheres.Lá fora, depois do jantar, as estrelas virão tocar
a terra na ancha planura. As estrelas sĂŁo vivas,
mas nĂŁo valem estas cerejas que como sozinho.
Vejo o céu, mas sei que entre os tectos de ferrugem
brilha já alguma luz e que, por baixo, há ruĂdos.
Um grande golo e o meu corpo saboreia a vida
das árvores e dos rios e sente-se desprendido de tudo.
Basta um pouco de silĂŞncio e as coisas imobilizam-se
no seu verdadeiro sĂtio, como o meu corpo imĂłvel.Cada coisa está isolada ante os meus sentidos,
que a aceita impassĂvel: um cicio de silĂŞncio.
Cada coisa na escuridĂŁo posso sabĂŞ-la,
como sei que o meu sangue circula nas veias.
Passagens sobre Retângulos
2 resultadosA Vida
A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisĂŁo, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caĂram
mais depressa, nessa tarde, o cĂrculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada tĂŞm a ver com cĂrculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas hĂşmidas
no gesso da memĂłria;a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
prĂłximas.