Sonetos sobre Asas de Cruz e Souza

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Sonetos de asas de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

Santos Óleos

Com os santos Ăłleos de que vens ungido
Podes andar no mundo sem receio.
Quem veio para a Luz, por certo veio
Para ser valoroso e ser temido.

Que tudo Ă© embalde, tudo em vĂŁo, perdido
Quando se traz esse divino anseio,
Esse doce tranporte ou doce enleio
Que deixa tudo e tudo confundido.

A Alma que comop a vela chega ao porto
Sente o melhor, consolador conforto
E a asa nas asas dos Arcanjos toca…

Os santos Ăłleos sĂŁo a luz guiadora
Que vigia por ti na pecadora
Terra e o teu mundo celestial evoca

Mundo InaccessĂ­vel

Tu’alma lembra um mundo inaccessĂ­vel
Onde só astros e águias vão pairando,
Onde só se escuta, trágica, cantando,
A sinfonia da AmplidĂŁo terrĂ­vel!

Alma nenhuma, que nĂŁo for sensĂ­vel,
Que asas nĂŁo tenha para as ir vibrando,
Essa regiĂŁo secreta desvendando,
Falece, morre, num pavor incrĂ­vel!

É preciso ter asas e ter garras
Para atingir aos ruĂ­dos de fanfarras
Do mundo da tu’alma augusta e forte.

É preciso subir ígneas montanhas
E emudecer, entre visões estranhas,
Num sentimento mais sutil que a Morte!

Celeste

Vi-te crescer! tu eras a criança
Mais linda, mais gentil, mais delicada:
Tinhas no rosto as cores da alvorada
E o sol disperso pela loira trança.

Asas tinhas tambĂ©m, as da esperança…
E de tal sorte eras sutil e alada
Que parecias ave arrebatada
Na luz do Espaço onde a razão descansa!

Depois, entĂŁo, fizeste-te menina,
VisĂŁo de amor, purĂ­ssima, divina,
Perante a qual ainda hoje me ajoelho.

Cresceste mais! És bela e moça agora…
Mas eu, que acompanhei toda essa aurora,
Sinto bem quanto estou ficando velho.

Domus Aurea

De bom amor e de bom fogo claro
Uma casa feliz se acaricia…
Basta-lhe luz e basta-lhe harmonia
Para ela nĂŁo ficar ao desamparo.

O Sentimento, quando Ă© nobre e raro,
Veste tudo de cândida poesia…
Um bem celestial dele irradia,
Um doce bem, que nĂŁo Ă© parco e avaro.

Um doce bem que se derrama em tudo,
Um segredo imortal, risonho e mudo,
Que nos leva debaixo da sua asa.

E os nossos olhos ficam rasos d’água
Quando, rebentos de uma oculta mágoa,
São nossos filhos todo o céu da casa.