Supremo Desejo
Eternas, imortais origens vivas
Da Luz, do Aroma, segredantes vozes
Do mar e luares de contemplativas,
Vagas visĂ”es volĂșpicas, velozes…Aladas alegrias sugestivas
De asa radiante e branca de albornozes,
Tribos gloriosas, fulgidas, altivas,
De condores e de ĂĄguias e albatrozes…Espiritualizai nos Astros louros,
Do sol entre os clarÔes imorredouros
Toda esta dor que na minh’alma clama…Quero vĂȘ-la subir, ficar cantando
Na chama das Estrelas, dardejando
Nas luminosas sensaçÔes da chama.
Sonetos sobre Astros de Cruz e Souza
40 resultadosRequiescat
Grande, grande Ilusão morta no espaço,
Perdida nos abismos da memĂłria,
Dorme tranqĂŒila no esplendor da glĂłria,
Longe das amarguras do cansaço…IlusĂŁo, Flor do sol, do morno e lasso
Sonho da noite tropical e flĂłrea,
Quando as visÔes da névoa transitória
Penetram na alma, num lascivo abraço…Ă IlusĂŁo! Estranha caravana
de åguias, soberbas, de cabeça ufana,
De asas abertas no clarão do Oriente.Não me persiga o teu mistério enorme!
Pelas saudades que me aterram, dorme,
Dorme nos astros infinitamente…
Sentimento Esquisito
à céu estéril dos desesperados,
Forma impassĂvel de cristas sidĂ©reo,
Dos cemitérios velho cemitério
Onde dormem os astros delicados.PĂĄtria d’estrelas dos abandonados,
Casulo azul do anseio vago, aéreo,
Formidåvel muralha de mistério
Que deixa os coraçÔes desconsolados.CĂ©u imĂłvel milĂȘnios e milĂȘnios,
Tu que iluminas a visĂŁo dos GĂȘnios
E ergues das almas o sagrado acorde.Céu estéril, absurdo, céu imoto,
Faz dormir no teu seio o Sonho ignoto,
Esta serpente que alucina e morde…
Ăxtase
Quando vens para mim, abrindo os braços
Numa carĂcia lĂąnguida e quebrada,
Sinto o esplendor de cantos de alvorada
Na amorosa fremĂȘncia dos teus passos.Partindo os duros e terrestres laços,
A alma tonta, em delĂrio, alvoroçada,
Sobe dos astros a radiosa escada
Atravessando a curva dos espaços.Vens, enquanto que eu, perplexo d’espanto,
Mal te posso abraçar, gozar-te o encanto
Dos seios, dentre esses rendados folhos.Nem um beijo te dou! abstrato e mudo
Diante de ti, sinto-te, absorto em tudo,
Uns rumores de pĂĄssaros nos olhos.
Canção De Abril
Vejo-te, enfim, alegre e satisfeita.
Ora bem, ora bem! — Vamos embora
Por estes campos e rosais afora
De onde a tribo das aves nos espreita.Deixa que eu faça a matinal colheita
Dos teus sonhos azuis em cada aurora,
Agora que este abril nos canta, agora,
A florida canção que nos deleita.Solta essa fulva cabeleira de ouro
E vem, subjuga com teu busto louro
O sol que os mundos vai radiando e abrindo.E verĂĄs, ao raiar dessa beleza,
Nesse esplendor da virgem natureza,
Astros e flores palpitando e rindo.
LĂĄgrimas Da Aurora, Poemas Cristalinos
LĂĄgrimas da aurora, poemas cristalinos
Que rebentais das cobras do mistério!
Aves azuis do manto auri-sidĂ©rio…
Raios de luz, fantĂĄsticos, divinos!…Astros diĂĄfanos, brandos, opalmos,
Brancas cecens do ParaĂso etĂ©reo,
Canto da tarde, lĂmpido, aĂ©reo,
Harpa ideal, dos encantados hinos!…Brisas suaves, viraçÔes amenas,
LĂrios do vale, roseirais do lago,
Bandos errantes de sutis falenas!…Vinde do arcano n’um potente afago
Louvar o GĂȘnio das mansĂ”es serenas,
Esse ProdĂgio singular e mago!!…
A Perfeição
A Perfeição Ă© a celeste ciĂȘncia
Da cristalização de almos encantos,
De abandonar os mĂłrbidos quebrantos
E viver de uma oculta florescĂȘncia.Noss’alma fica da clarividĂȘncia
Dos astros e dos anjos e dos santos,
Fica lavada na lustral dos prantos,
Ă dos prantos divina e pura essĂȘncia.Noss’alma fica como o ser que Ă s lutas
As mĂŁos conserva limpas, impolutas,
Sem as manchas do sangue mau da guerra.A Perfeição é a alma estar sonhando
Em soluços, soluços, soluçando
As agonias que encontrou na Terra.!
Dizem Que A Arte à A Clùmide De Idéia
Dizem que a arte é a clùmide de idéia
A peregrina irradiação celeste,
E d’isso a prova singular jĂĄ deste
Sorvendo d’ela a divinal sabĂ©ia!.Da “Georgeta” na feliz estrĂ©ia,
Asseverar-nos ainda mais vieste
Que Ă©s um gĂȘnio, que te vĂĄs de preste
Tornando o assombro de qualquer platĂ©ia!…Sinto uns transportes fervorosos, ledos
Quando nas cenas de sutis enredos
Fulgem-te os olhos co’a expressĂŁo dos astros!…E as turbas mudas, impassĂveis, calmas
Sentem mil mundos lhes crescer nas almas…
VĂŁo-te seguindo os luminosos rastros!…
Soneto
A Moreira de Vasconcelos
Na luta dos impossĂveis,
do espirito e da matéria,
tu és a åguia sidérea
dos pensamentos terrĂveis!
(Do Autor)Ă um pensar flamejador, dardĂąnico
Uma explosão de råpidas idéias,
Que como um mar de estranhas odisséias
Saem-lhe do crĂąnio escultural, titĂąnico!…Parece haver um cataclismo enorme
LĂĄ dentro, em Ăąnsia, a rebentar, fremente!…
Parece haver a convulsĂŁo potente,
Dos rubros astros num fragor disforme!…HĂŁo de ruir na transfusĂŁo dos mundos
Os monumentos colossais profundos,
As cousas vãs da brasileira história!Mas o seu vulto, sobre a luz alçado,
Oh! hĂĄ de erguer-se de arrebĂłis c’roado,
Como Atalaia nos umbrais da glĂłria!!…
VisĂŁo
Noiva de SatanĂĄs, Arte maldita,
Mago Fruto letal e proibido,
Sonùmbula do Além, do Indefinido
Das profundas paixÔes, Dor infinita.Astro sombrio, luz amarga e aflita,
Das IlusÔes tantålico gemido,
Virgem da Noite, do luar dorido,
Com toda a tua Dor oh! sĂȘ bendita!Seja bendito esse clarĂŁo eterno
De sol, de sangue, de veneno e inferno,
De guerra e amor e ocasos de saudade…Sejam benditas, imortalizadas
As almas castamente amortalhadas
Na tua estranha e branca Majestade!
Cavador Do Infinito
Com a lĂąmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderĂĄveis,
Vai abafando as queixas implacĂĄveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.Ănsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefĂĄveis.
Cava nas fundas eras insondĂĄveis
O cavador do trĂĄgico Infinito.E quanto mais pelo Infinito cava
mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distĂąncias…Alto levanta a lĂąmpada do Sonho.
E como seu vulto pĂĄlido e tristonho
Cava os abismos das eternas Ăąnsias!
Clamor Supremo
Vem comigo por estas cordilheiras!
PÔe teu manto e bordão e vem comigo,
Atravessa as montanhas sobranceiras
E nada temas do mortal Perigo!Sigamos para as guerras condoreiras!
Vem, resoluto, que eu irei contigo
Dentre as Ăguias e as chamas feiticeiras,
SĂł tendo a Natureza por abrigo.Rasga florestas, bebe o sangue todo
Da Terra e transfigura em astros lodo,
O próprio lodo torna mais fecundo.Basta trazer um coração perfeito,
Alma de eleito, Sentimento eleito
Para abalar de lado a lado o mundo!
Flores Da Lua
Brancuras imortais da Lua Nova
Frios de nostalgia e sonolĂȘncia…
Sonhos brancos da Lua e viva essĂȘncia
Dos fantasmas noctĂvagos da Cova.Da noite a tarda e taciturna trova
Soluça, numa tremula dormĂȘncia…
Na mais branda, mais leve florescĂȘncia
Tudo em VisÔes e Imagens se renova.Mistérios virginais dormem no Espaço,
Dormem o sono das profundas seivas,
MonĂłtono, infinito, estranho e lasso…E das Origens na luxĂșria forte
Abrem nos astros, nas sidéreas leivas
Flores amargas do palor da Morte.
Canção Da Formosura
Vinho de sol ideal canta e cintila
Nos teus olhos, cintila e aos lĂĄbios desce,
Desce a boca cheirosa e a empurpurece,
Cintila e canta apĂłs dentre a pupila.Sobe, cantando, a limpidez tranqĂŒila
Da tu’alma estrelada e resplandece,
Canta de novo e na doirada messe
Do teu amor, se perpetua e trila…Canta e te alaga e se derrama e alaga…
Num rio de ouro, iriante, se propaga
Na tua carne alabastrina e pura.Cintila e canta na canção das cores,
Na harmonia dos astros sonhadores,
A Canção imortal da Formosura!
Ăxtase BĂșdico
Abre-me os braços, Solidão profunda,
ReverĂȘncia do cĂ©u, solenidade
Dos astros, tenebrosa majestade,
Ă planetĂĄria comunhĂŁo fecunda!Ăleo da noite, sacrossanto, inunda
Todo o meu ser, dĂĄ-me essa castidade,
As azuis florescĂȘncias da saudade,
Graça das graças imortais oriunda!As estrelas cativas no teu seio
DĂŁo-me um tocante e fugitivo enleio,
Embalam-me na luz consoladora!Abre-me os braços, Solidão radiante,
Funda, fenomenal e soluçante,
Larga e bĂșdica Noite Redentora!
HĂłstias
A EmĂlio de Menezes
Nos arminhos das nuvens do infinito
Vamos noivar por entre os esplendores,
Como aves soltas em vergéis de flores,
Ou penitentes de um estranho rito.Que seja nosso amor — sidĂ©rio mito! —
O lĂmpido turĂbulo das dores,
Derramando o incenso dos amores
Por sobre o humano coração aflito.Como num templo, numa clara igreja,
Que o sonho nupcial gozado seja,
Que eu durma e sonhe nos teus nĂveos flancos.Contigo aos astros fĂșlgidos alado,
Que sejam hĂłstias para o meu noivado
As flores virgens dos teus seios brancos!
Olavo Bilac
Vim afinal para o solar dos astros,
De irradiaçÔes purĂssimas e belas,
Numa viagem de alterosos mastros,
Numa viagem de saudosas velas…Das alegrias nos febris enastros
Que as almas prendem para percebĂȘ-las,
Vim cantando e feliz, fugindo aos rastros
Da terra de onde vi e ouvi estrelas.E por aqui, nas lĂșcidas paisagens,
Vestido das mais fluĂdicas roupagens
Tecido de ouro, nos clarĂ”es imersos…Ando a gozar, entre laurĂ©is e palmas,
O que cantei na terra, junto Ă s almas,
Na eterna florescĂȘncia dos meus versos.
Aparição
Por uma estrada de astros e perfumes
A Santa Virgem veio ter comigo:
Doiravam-lhe o cabelo claros lumes
Do sacrossanto resplendor amigo.Dos olhos divinais no doce abrigo
NĂŁo tinha laivos de PaixĂ”es e ciĂșmes:
Domadora do Mal e do perigo
Da montanha da Fe galgara os cumes.Vestida na alva excelsa dos Profetas
Falou na ideal resignação de Ascetas,
Que a febre dos desejos aquebranta.No entanto os olhos dela vacilavam,
Pelo mistério, pela dor flutuavam,
Vagos e tristes, apesar de Santa!
O Grande Sonho
Sonho profundo, Ăł Sonho doloroso,
Doloroso e profundo Sentimento!
Vai, vai nas harpas trĂȘmula do vento
Chorar o teu mistério tenebroso.Sobe dos astros ao clarão radioso,
Aos leves fluidos do luar nevoento,
Ăs urnas de cristal do firmamento,
Ă velho Sonho amargo e majestoso!Sobe Ă s estrelas rĂștilas e frias,
Brancas e virginais eucaristias
De onde uma luz de eterna paz escorre.Nessa Amplidão das AmplidÔes austeras
Chora o Sonho profundo das Esferas
Que nas azuis Melancolias morre…
SideraçÔes
Para as Estrelas de cristais gelados
As Ăąnsias e os desejos vĂŁo subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidĂŁo vestindo…Num cortejo de cĂąnticos alados
Os arcanjos, as cĂtaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo…Dos etĂ©reos turĂbulos de neve
Claro incenso aromal, lĂmpido e leve,
Ondas nevoentas de VisĂ”es levanta…E as Ăąnsias e os desejos infinitos
VĂŁo com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta…