Sonetos sobre Bem de Abade de Jazente

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É Bem Feliz

É bem feliz por certo, o que somente
Ao rústico lavor acostumado
Conduzir sabe os bois, reger o arado,
E dar à terra a provida semente.

A arte de a lavrar sempre inocente
Estuda só, e ignora afortunado
As novas leis, as máximas de Estado,
E os documentos de enganar a gente.

Projectos vãos não forma, e sempre isento
Da soberba ambição, nunca a Lisboa
Foi dobrar o joelho ao valimento.

Cabana humilde, onde nasceu, povoa;
E seguro no próprio abatimento,
Só tem medo do Céu, quando trovoa.

Eu Como, Eu Bebo, Eu Durmo

Eu como, eu bebo, eu durmo e a vida passo
Ora bem, ora mal, como sucede:
Tomo tabaco, e chá; e se mo pede
O génio alguma vez, eu Nize abraço:

As vezes jogo, as vezes versos faço,
Que mais que a arte a natureza mede:
E talvez por saber como procede
Em se mover o Sol círculos traço.

Alguma vez me agrada a soledade,
Outras vezes a nobre companhia;
E desta sorte vou passando a idade:

E espero assim que venha a morte fria
Com o manto da eterna escuridade
Encobrir-me de todo a luz do dia.

Deixa-me em Paz

Nize, deixa-me em paz; porque já agora
No mar de Amor, por mais que á vela saia,
Carcaça velha sou, que junto á praia,
Por não poder surgir se desarvora.

Adeus, que quem me vir da barra fora,
É capaz de me dar alguma vaia:
E ao menos quero, antes que ao fundo caia,
Inda salvar-me: adeus; fica-te embora.

Bem sei que pouco é já; mas por vanglória
(Porque às vezes se faz do próprio dano)
A mesma falta hei-de fazer notória.

E no público altar do Desengano,
Deixarei dos estragos por memória
O destroçado leme, e o roto pano.