Sonetos sobre Céu de Machado de Assis

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Sonetos de céu de Machado de Assis. Leia este e outros sonetos de Machado de Assis em Poetris.

Maria

Maria, há no seu gesto airoso o nobre,
Nos olhos meigos e no andar tĂŁo brando,
Um nĂŁo sei que suave que descobre,
Que lembra um grande pássaro marchando.

Quero, Ă s vezes, pedir-lhe que desdobre
As asas, mas não peço, reparando
Que, desdobradas, podem ir voando
Levá-la ao teto azul que a terra cobre.

E penso entĂŁo, e digo entĂŁo comigo:
“Ao cĂ©u, que vĂŞ passar todas as gentes
Bastem outros primores de valia.

Pássaro ou moça, fique o olhar amigo,
O nobre gesto e as graças excelentes
Da nossa cara e lĂ©pida Maria”.

A FelĂ­cio Dos Santos

FelĂ­cio amigo, se eu disser que os anos
Passam correndo ou passam vagarosos,
Segundo sĂŁo alegres ou penosos,
Tecidos de afeições ou desenganos,

“Filosofia Ă© esta de rançosos!”
Dirás. Mas não há outra entre os humanos.
NĂŁo se contam sorrisos pelos danos,
Nem das tristezas desabrocham gozos.

Banal, confesso. O precioso e o raro
É, seja o céu nublado ou seja claro,
Tragam os tempos amargura ou gosto,

NĂŁo desdizer do mesmo velho amigo,
Ser com os teus o que eles sĂŁo contigo,
Ter um só coração, ter um só rosto.

O Desfecho

Prometeu sacudiu os braços manietados
E sĂşplice pediu a eterna compaixĂŁo,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.

Mais dez, mais cem, mais mil e mais um biliĂŁo,
Uns cingidos de luz, outros ensangĂĽentados…
SĂşbito, sacudindo as asas de tufĂŁo,
Fita-lhe a água em cima os olhos espantados.

Pela primeira vez a vĂ­scera do herĂłi,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer Ă s raivas que a consomem.

Uma invisĂ­vel mĂŁo as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplĂ­cio e acabara o homem.