Sonetos sobre Espinhos

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Sonetos de espinhos escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Caminho

II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quĂŞ, nem eu o sei.
– Bom dia, companheiro – te saudei,
Que a jornada Ă© maior indo sozinho.

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!… Foi no entanto

Que chorámos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.

Asas Abertas

As asas da minh’alma estĂŁo abertas!
Podes te agasalhar no meu Carinho,
Abrigar-te de frios no meu Ninho
Com as tuas asas trĂŞmulas, incertas.

Tu’alma lembra vastidões desertas
Onde tudo Ă© gelado e Ă© sĂł espinho.
Mas na minh’alma encontrarás o Vinho
e as graças todas do Conforto certas.

Vem! Há em mim o eterno Amor imenso
Que vai tudo florindo e fecundando
E sobe aos céus como sagrado incenso.

Eis a minh’alma, as asas palpitando
Com a saudade de agitado lenço
o segredo dos longes procurando…

Mala Com Alça

É da lama essa mala que retiro
para subir a encosta (como a pedra
que Sisifo ainda empurra todo dia)
numa viagem cheia de seqĂĽelas.

Não há como negar tantos espinhos
na travessia turva de mistérios
que vĂŁo-se descobrindo nos caminhos:
a mão negada, a fome, o vitupério,

o rito solidário que esquecemos
em troca a vaidade transitĂłria.
Somos do barro e ao barro voltaremos.

A verdade do Homem e de sua Hora
vem com mala e alça, disto sabemos,
mais o peso do corpo e sua histĂłria.

Da Emenda

Concluido me tendo a mi comigo
De deixar o caminho que levava,
Vendo com razões claras quanto errava
Em nĂŁo me desviar do mais antigo.

Pois no trabalho seu, no mor perigo,
Meu amigo consigo a mi me achava;
E quando no meu mal algum buscava,
Achava-me comigo sem amigo.

Agora dei a volta por caminhos
De solitarios bosques enramados,
De feras bravas mansos passarinhos;

Que ainda que entre espinhos conversados,
Mais quero pé descalço entre espinhos,
Que dos homens humanos espinhados.