As Minhas IlusÔes
Hora sagrada dum entardecer
De Outono, Ă beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisĂvel lira …
O sol Ă© um doente a enlanguescer …A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num Ășltimo suspiro, a estremecer!O sol morreu … e veste luto o mar …
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
à flor das ondas, num lençol de espuma.As minhas IlusÔes, doce tesoiro,
Também as vi levar em urna de oiro,
No mar da Vida, assim … uma por uma …
Sonetos sobre Espuma
27 resultadosSorrio
Ah! vieste me falar de antigamente
desse tempo em que fui sentimental,
quando o amor era um sonho puro e ardente
vestido em vĂ©u de espumas, nupcial…Quando me dava, perdulariamente,
vivendo o mal sem conhecer o mal,
a levar a alma inquieta de quem sente
e de quem busca uma conquista ideal…Era sestro da idade essa existĂȘncia…
Sinal de pouca vida e muito sonho,
de muito sonho… e pouca experiĂȘncia…Hoje, no entanto, se a pensar me ponho:
– sorrio… Um vĂŁo sorriso de indulgĂȘncia…
…Sinal de muita vida… e pouco sonho…
O Mar Agita-se, como um Alucinado
O Mar agita-se, como um alucinado:
A sua espuma aflui, baba da sua Dor…
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador.DĂĄ-lhe um aspecto estranho a campĂąnula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassĂvel, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:Assim devemos nĂłs, Poetas, no Mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar
â Pois a Arte Ă©, para nĂłs, o escafandro das Almas!
Soneto Da Conciliação
Que o amor nĂŁo me iluda, como a bruma
que esconde uma imprevista segurança.
Antes, sustente o chĂŁo em que descansa
o que se irĂĄ, perdido como a espuma.Veja que eu me elegi, mas sem nenhuma
razão de assim fazer, e sem lembrança
de aproveitar apenas a esquivança
de que o amor não prescinde em parte alguma.Que também não se alheie ao que esclarece
o motivo real, de uma oferta,
reunir o acessĂłrio e o imprescindĂvel.Antes, atente a tudo o que se tece
distante do seu dia inconsumĂvel
que dĂĄ certeza Ă noite mais incerta.
Desponta A Estrela D’alva, A Noite Morre.
Desponta a estrela d’alva, a noite morre.
Pulam no mato alĂgeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
LĂąnguidas queixas murmurando corre.VolĂșvel tribo a solidĂŁo percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.Tudo Ă© luz e esplendor; tudo se esfuma
Ăs carĂcias da aurora, ao cĂ©u risonho,
Ao flĂłreo bafo que o sertĂŁo perfuma!PorĂ©m minh’alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
– Oh! mundo encantador, tu Ă©s medonho!
O RelĂłgio
EbĂșrneo Ă© o mostrador: as horas sĂŁo de prata
LĂȘ-se a firma Breguet por baixo do gracioso
Rendilhado ponteiro; a tampa Ă© enorme e chata:
Nela o esmalte produz um quadro delicioso.Repara: eis um salĂŁo: casquilho malicioso
Das festas cortesĂŁs o mimo, a flor, a nata,
Junto a um cravo sonoro a alegre voz desata.
Uma fidalga o escuta ébria de amor e gozo.Rasga-se ampla a janela; ao longe o olhar descobre
O correto jardim e o parque extenso e nobre.
As nuvens no alto céu flutuam como espumas.Da paisagem no fundo, em lago transparente,
Onde se espelha o azul e o laranjal frondente,
Um cisne Ă luz do sol estende as nĂveas plumas.
A Ăgua
Eu fui a sombra a converter-se em luz,
E fui a névoa a transformar-se em cor,
E fui o pranto a consagrar a dor,
Quando brilhei nos olhos de Jesus.E fui a nuvem a buscar a altura,
E recebi do Sol a cor da chama.
CaĂ na terra e converti-me em lama
Para a tornar melhor e menos dura!Fui pranto de perdĂŁo e de humildade…
E foi nuns olhos cheios de saudade
Que mais linda me fiz e desejei!…E fui rio… e fui mar… e onda… e espuma…
E, em sonho de Poetas, fui Ă bruma…
O vago… o indeciso… o que nĂŁo sei….