Sonetos sobre Fados de Laurindo Rabelo

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Sonetos de fados de Laurindo Rabelo. Leia este e outros sonetos de Laurindo Rabelo em Poetris.

Soneto V – Ă€ Sra. Marieta Landa

Disseste a nota amena d’alegria,
E, arrebatado entĂŁo nesse momento
De um doce, divinal contentamento,
Eu senti que minh’alma aos cĂ©us subia.

Disseste a nota da melancolia,
Negra nuvem toldou-me o pensamento;
Senti que agudo espinho virulento
Do coração as fibras me rompia.

És anjo ou nume, tu que desta sorte
Trazes o peito humano arrebatado
Em sucessivo e rápido transporte?!

Anjo ou nume nĂŁo Ă©s; mas, se te Ă© dado
No canto dar a vida, ou dar a morte,
Tens nas mĂŁos teu Porvir, teu bem, teu fado.

Soneto II – A Uma Inconstante

De uma ingrata em troféu despedaçado
Meu coração devora amor cruento,
Trocando em fero e bárbaro tormento
Quantos prazeres concedeu-me o fado.

No seio d’alma, já dilacerado,
Negras fúrias do báratro apascento!
Filtra-me o delirante pensamento
De zelos negro fel envenenado.

Desprezo, ingratidão, fria esquivança
Da cruel por quem morro, em tal procela
Apagaram-me a estrela da esperança.

E eu (ao confessá-lo a dor me gela)
Humilhado a seus pés, minha vingança
É carpir, delirar, morrer por ela.

Soneto VII – Ă€ Mesma Senhora

AlcĂ­one, perdido o esposo amado,
Ao céu o esposo sem cessar pedia;
Porém as ternas preces surdo ouvia
O céu, de seus amores descuidado.

Em vĂŁo o pranto seu d’alma arrancado
Tenta a pedra minar da campa fria;
A morte de seu pranto escarnecia,
De seu cruel penar se ria o fado.

Mas ah! — não fora assim, se a voz tivera
TĂŁo bela, tĂŁo gentil, tĂŁo doce e clara,
Daquela que hoje neste palco impera.

Se assim cantasse, o tĂşmulo abalara
Do bem querido; e, branda a morte fera,
Vivo o extinto esposo lhe entregara.

Soneto III – A Um Infeliz

Geme, geme, mortal infortunado,
É fado teu gemer continuamente:
Perante as leis do Fado Ă©s delinqĂĽente,
Sempre tirano algoz terás no Fado.

Mas para nĂŁo ser mais envenenado
O fel que essa alma bebe, e o mal que sente,
NĂŁo te iluda o falaz riso aparente
De um futuro de rosas coroado.

Só males o presente te afiança:
Encrustado de vermes charco imundo
Se te volve o passado na lembrança.

Busca, pois, o da morte ermo profundo:
Despedaça a grinalda da esperança:
Crava os olhos na campa, e deixa o mundo.