Sonetos sobre Fortuna de Vasco Mouzinho de Quebedo

2 resultados
Sonetos de fortuna de Vasco Mouzinho de Quebedo. Leia este e outros sonetos de Vasco Mouzinho de Quebedo em Poetris.

Soneto XXVI

Fortuna ingrata, porque me persegues?
Apareces-me branda e logo foges,
Dás-me um bem, porque dele me despojes,
Mostras-te liberal, só porque negues.

Para que só me deixes, só me segues,
Fazes-me mimos, só porque me enojes,
Se me levantas, é porque me arrojes,
Se me asseguras, é porque me entregues.

Vinga-te bem, Fortuna, que vingado
Estou assaz de ti, com te vingares,
Que todos dizem ser mal empregado.

Um bem me fazes sem o imaginares:
C’o Mundo, eu contra mim tenho apostado,
E assim ganho sempre c’os azares.

Soneto XXXVII

Menos sente o não ver quem cego nasce
Que aquele, que depois de ter gozado
A frescura do rio, fonte e prado,
Nesta beleza os olhos já não pasce.

Menos, o que não viu a bela face
Da fortuna, que quem alevantado
No mais alto, caiu daquele estado,
Não temendo que esquiva se mostrasse.

Mas contudo não sente tanto o cego
Que já viu, o não ver, nem sente assi
O que já rico foi, ver-se em pobreza.

Como eu, e tanto mais nisto me emprego,
Quanto mor é o bem em que me vi
Que a vista de seus olhos e a riqueza.