ComunhĂŁo
Reprimirei meu pranto!… Considera
Quantos, minh’alma, antes de nĂłs vagaram,
Quantos as mĂŁos incertas levantaram
Sob este mesmo cĂ©u de luz austera!…— Luz morta! amarga a prĂłpria primavera! —
Mas seus pacientes corações lutaram,
Crentes sĂł por instinto, e se apoiaram
Na obscura e herĂłica fĂ©, que os retempera…E sou eu mais do que eles? igual fado
Me prende á lei de ignotas multidões. —
Seguirei meu caminho confiado,Entre esses vultos mudos, mas amigos,
Na humilde fé de obscuras gerações,
Na comunhĂŁo dos nossos pais antigos.
Sonetos sobre Geração de Antero de Quental
2 resultados Sonetos de geração de Antero de Quental. Leia este e outros sonetos de Antero de Quental em Poetris.
Homo
Nenhum de vĂłs ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece…NinguĂ©m sabe quem sou… e mais, parece
Que há dez mil anos já, neste degredo,
Me vĂŞ passar o mar, vĂŞ-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece…Sou um parto da Terra monstruoso;
Do hĂşmus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pai nem mĂŁe…Misto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanás; — talvez um filho
Bastardo de Jeová; — talvez ninguém!