Com a Fortuna não Perde o Ser de Besta
Na carreira veloz, a deusa cega
Lança às vezes a mão a um feio mono
E o sobe, num instante, a um coche, a um trono,
Onde a Virtude com trabalho chega.Porém se, louca, num jumento pega,
Por mais que o erga não lhe dá abono:
Bem se vê que foi sonho de seu sono,
Quando a vara ou bastão ela lhe entrega.Pouco importa adornar asno casmurro
Com jaezes reais, mantas de festa,
Se a conhecer se dá no rouco zurro.Quem, no berço, por vil se manifesta,
Quem nele baixo foi, quem nace burro,
Co’a Fortuna não perde o ser de besta.
Sonetos sobre Instantes de Francisco Joaquim Bingre
2 resultados Sonetos de instantes de Francisco Joaquim Bingre. Leia este e outros sonetos de Francisco Joaquim Bingre em Poetris.
Morte não é a Esquálida Caveira
Morte não é a esquálida caveira
Dura, disforme, seca e carcomida:
Ela um destroço é, uma caída
Da abreviada, racional carreira.De ossos e carne envernizada, inteira,
Por vida tem a nossa própria vida.
Come, bebe, passeia, está vestida
E, até morrer, é nossa companheira.E sombra que sentimos e não vemos,
Segue-nos sempre aonde quer que vamos,
Só nos deixa nos últimos extremos.A Morte é sempre a vida que logramos,
Pois morte são os dias que vivemos
E, vida, só o instante que expiramos.