Sonetos sobre Laranjais de António Cândido Gonçalves Crespo

2 resultados
Sonetos de laranjais de António Cândido Gonçalves Crespo. Leia este e outros sonetos de António Cândido Gonçalves Crespo em Poetris.

Consolação

Quando Ă  noite no baile esplendoroso
Vais na onda da valsa arrebatada
Com a serena fronte reclinada
Sobre o peito feliz do par ditoso…

Mal sabes tu que existe um desditoso
Faminto de te ver, oh minha amada!
E que sente a sua alma angustiada
Longe da luz do teu olhar piedoso.

Mas quando a roxa aurora vem nascendo,
E a cotovia acorda o laranjal,
E os astros vĂŁo de todo esmorecendo;

Eu cuido ver-te, oh lĂ­rio divinal,
As minhas cartas ávida relendo
Seminua no leito virginal.

O RelĂłgio

EbĂşrneo Ă© o mostrador: as horas sĂŁo de prata
LĂŞ-se a firma Breguet por baixo do gracioso
Rendilhado ponteiro; a tampa Ă© enorme e chata:
Nela o esmalte produz um quadro delicioso.

Repara: eis um salĂŁo: casquilho malicioso
Das festas cortesĂŁs o mimo, a flor, a nata,
Junto a um cravo sonoro a alegre voz desata.
Uma fidalga o escuta Ă©bria de amor e gozo.

Rasga-se ampla a janela; ao longe o olhar descobre
O correto jardim e o parque extenso e nobre.
As nuvens no alto céu flutuam como espumas.

Da paisagem no fundo, em lago transparente,
Onde se espelha o azul e o laranjal frondente,
Um cisne Ă  luz do sol estende as nĂ­veas plumas.