Sonetos sobre Mal de António Cândido Gonçalves Crespo

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Sonetos de mal de António Cândido Gonçalves Crespo. Leia este e outros sonetos de António Cândido Gonçalves Crespo em Poetris.

Consolação

Quando Ă  noite no baile esplendoroso
Vais na onda da valsa arrebatada
Com a serena fronte reclinada
Sobre o peito feliz do par ditoso…

Mal sabes tu que existe um desditoso
Faminto de te ver, oh minha amada!
E que sente a sua alma angustiada
Longe da luz do teu olhar piedoso.

Mas quando a roxa aurora vem nascendo,
E a cotovia acorda o laranjal,
E os astros vĂŁo de todo esmorecendo;

Eu cuido ver-te, oh lĂ­rio divinal,
As minhas cartas ávida relendo
Seminua no leito virginal.

Na Aldeia

A CristĂłvĂŁo Aires

Duas horas da tarde. Um sol ardente
Nos colmos dardejando, e nos eirados.
Sobreleva aos sussurros abafados
O grito das bigornas estridente.

A taberna Ă© vazia; mansamente
Treme o loureiro nos umbrais pintados;
Zumbem Ă  porta insectos variegados,
Envolvidos do sol na luz tremente.

Fia Ă  soleira uma velhinha: o filho
No céu mal acordou da aurora o brilho
Saiu para os cansaços da lavoura.

A nora lava na ribeira, e os netos
Ao longe correm seminus, inquietos,
No mar ondeante da seara loura.