Sonetos sobre Luz de Walter Benjamin

3 resultados
Sonetos de luz de Walter Benjamin. Leia este e outros sonetos de Walter Benjamin em Poetris.

Vê Minha Vida à Luz da Protecção

Vê minha vida à luz da protecção
que dás disposta a dar-se por amor
e quando a mĂŁe te deu Ă  luz com dor
o espĂ­rito adensou-se nela entĂŁo

o mesmo que em espigas pelo verĂŁo
a negra fronte bela foi compor
de inverno em voz amarga acusador
a cuja vista as lágrimas virão

Meu amor em teu corpo se cinzela
e dele os outros seres recebem vida
perante ti criança os que da ferida

sangram exposta ao mundo que flagela
A mim foste mais bálsamo porém
do que as curas balsâmicas que tem.

Tradução de Vasco Graça Moura

Se ao Mundo Predissesses teu Morrer

Se ao mundo predissesses teu morrer
na morte a natureza ir-te-ia Ă  frente
volvendo com mandado intransigente
no eterno esquecimento o prĂłprio ser

O céu se rosaria docemente
por do teu corpo a roupa enfim descer
florestas tingiria o teu sofrer
de negro e a noite o mar barca silente

Luto sem nome com estrelas mede
a estela ao teu olhar no arco celeste
e a escuridĂŁo de espesso muro impede

que a luz da nova primavera preste
A estação vê nos astros que pararam
as cisternas que a morte te espelharam.

Tradução de Vasco Graça Moura

Há em Toda a Beleza uma Amargura

Há em toda a beleza uma amargura
secreta e confundida que Ă© latente
ambígua indecifrável duplamente
oculta a si e a quem na olhar obscura

NĂŁo fica igual aos vivos no que dura
e a nĂŁo pode entender qualquer vivente
qual no cabelo orvalho ou brisa rente
quanto mais perto mais se desfigura

Ficando como Helena Ă  luz do ocaso
a lĂ­ngua dos dois reinos nĂŁo lhe Ă© azo
senão de apartar tranças ofuscante

Mas Ă  tua beleza nĂŁo foi dado
qual morte a abrir teu juvenil estado
crescer e nomear-se em cada instante?

Tradução de Vasco Graça Moura