Sonetos sobre Medo de Anibal Beça

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Sonetos de medo de Anibal Beça. Leia este e outros sonetos de Anibal Beça em Poetris.

Primeiro Round

Caminho o transitório bem tranqüilo
por que me soube, desde muito cedo,
flecha veloz, arco e alvo, num estilo
de quem despe o taxímetro do enredo

numa velocidade sem sigilo.
Nunca o subterfúgio. Nunca o medo.
Pelo menos aquele com vacilo
de transgredir. Não. Nem me sei rochedo.

Meu corpo alberga o frágil nesse asilo
em que só vencedores têm lugar.
Sou campeão de perdas. Foi cochilo,

creio, me ter um sócio do bazar
de Fernando Pessoa. Sim, pugilo
pelos ringues, no entanto, sem ganhar.

Equu (Para O Poeta Rafael Courtoisie)

Nos astros me perdia logo cedo
enquanto a luz vestia-me de noites.
Então chorava no meu ombro o enredo
grave galope breve com seus coices.

As éguas do destino cospem medos
sabendo-me alazão de muitas foices,
ou pangaré lunar dos meus degredos.
Por isso perseguiam-me nas noites

àquelas mais escuras sem estrelas
nas quais sou presa fácil sem que fosse
porque flechando verbos sei contê-las.

Não eram éguas mouras dos desertos
senão potrancas férteis com seus roces
estas que vinham mansas muito perto.

Senhora I

No calmo colo pouso meus segredos
Senhora que sabeis minhas fraquezas.
convoco só convosco o que antecedo
na lira ensimesmada da incerteza.

Não sei se o vero verso do degredo
vem albergado ou presa de represa
das frias águas íntimas do medo
lavando o frágil lado da tristeza.

A depressiva face não mostrada
esplende em vosso espelho que me abriga
lambendo o sal dos olhos da geada.

Águas que são do orvalho da fadiga
de recorrentes gotas espalhadas
regando as vossas mãos de amada e amiga

Simples Soneto

Desejado soneto este que é escrito
sem as firulas graves do solene,
que leva na palavra o simples rito
da fala cotidiana. Não condene

no entanto, a falta de um estro especioso,
nem de brega rotule esse meu vezo.
Apenas sinta o som oco e poroso
do fundo mar de anêmonas, o peso

rarefeito das algas nos peraus.
Essa cantiga filtra nossos medos,
as culpas e os tabus, e dá-me o aval
para buscar o simples e em querê-lo

ornamento de estética espartana
na faxina ao supérfluo que se espana.