Sonetos sobre Negros de Walter Benjamin

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Sonetos de negros de Walter Benjamin. Leia este e outros sonetos de Walter Benjamin em Poetris.

Vibra o Passado em Tudo o que Palpita

Vibra o passado em tudo o que palpita
qual dança em coração de bailarino
ao regressar jĂĄ mudo o violino
e hĂĄ nuvens sobre o bosque em que transita

À paz dos seres a morte em seu contínuo
crescer em ramos de coral incita
a bem da noite negra e infinita
ser um raro instrumento Ă© seu destino:

O ceptro dos eleitos que nĂŁo cansam
o corpo que este tempo jĂĄ nĂŁo quebra
é como a cruz que os astros quando avançam

sobre o sul traçam por medida e regra
Os deuses tĂȘm-no em suas mĂŁos cativo
risĂ­vel Ă© quem eles mandam vivo.

Tradução de Vasco Graça Moura

VĂȘ Minha Vida Ă  Luz da Protecção

VĂȘ minha vida Ă  luz da protecção
que dĂĄs disposta a dar-se por amor
e quando a mĂŁe te deu Ă  luz com dor
o espĂ­rito adensou-se nela entĂŁo

o mesmo que em espigas pelo verĂŁo
a negra fronte bela foi compor
de inverno em voz amarga acusador
a cuja vista as lĂĄgrimas virĂŁo

Meu amor em teu corpo se cinzela
e dele os outros seres recebem vida
perante ti criança os que da ferida

sangram exposta ao mundo que flagela
A mim foste mais bålsamo porém
do que as curas balsĂąmicas que tem.

Tradução de Vasco Graça Moura

Se ao Mundo Predissesses teu Morrer

Se ao mundo predissesses teu morrer
na morte a natureza ir-te-ia Ă  frente
volvendo com mandado intransigente
no eterno esquecimento o prĂłprio ser

O céu se rosaria docemente
por do teu corpo a roupa enfim descer
florestas tingiria o teu sofrer
de negro e a noite o mar barca silente

Luto sem nome com estrelas mede
a estela ao teu olhar no arco celeste
e a escuridĂŁo de espesso muro impede

que a luz da nova primavera preste
A estação vĂȘ nos astros que pararam
as cisternas que a morte te espelharam.

Tradução de Vasco Graça Moura