Sonetos sobre Noite de Teixeira de Pascoaes

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Sonetos de noite de Teixeira de Pascoaes. Leia este e outros sonetos de Teixeira de Pascoaes em Poetris.

Noites em Claro

Passas em claro as noites a chorar;
Dia a dia, teu rosto empalidece…
Faze tu, pobre Mãe, por serenar,
Santa Resignação sobre ela desce!

Rochedo que a penumbra desvanece,
Tu, por acaso, não lhe podes dar
Um pouco d’esse frio que entorpece
O coração e o deixa descançar?…

Jamais! Não ha remedio! Nem as horas
Que passam! Toda a fria noite choras;
Tua sombra, no chão, é mais escura.

Soffres! E sinto bem que a tua dôr,
Como se fôra um beijo, acêso amôr,
Vae-lhe aquecer, ao longe, a sepultura.

A Mãe e o Filho

Teu sêr tragicamente enternecido,
Em desespero de alma transformado,
Vae através do espaço escurecido
E pousa no seu tumulo sagrado.

E ele acorda, sentindo-o; e, comovido,
Chora ao vêr teu espirito adorado,
Assim tão só na noite e arrefecido
E todo de êrmas lagrimas molhado!

E eis que ele diz: “Ó Mãe, não chores mais!
Em vez dos teus suspiros, dos teus ais,
Quero que venha a mim tua alegria!”

E só nas horas em que a Mãe descança,
É que ele inclina a fronte de creança
E dorme ao pé de ti, Virgem Maria!

No Seu Tumulo

Sobre o seu frio berço sepulcral,
Meu espirito resa ajoelhado;
E sente-se perfeito e virginal
Na sua dôr divina concentrado.

Caí, gotas de orvalho matinal!
Astros, caí do céu todo estrelado!
Sêcas flôres do zéfiro outomnal,
Vinde enfeitar-lhe o tumulo sagrado!

Ó luar da meia noite, encantamento
De sombra, vem cobri-lo! Ó doido Vento,
Dorme com ele, em paz religiosa…

Sobre ele, ó terra, sê brandura apenas;
Faze-te luz, toma o calor das pennas;
Sê Mãe perfeita, bôa e carinhosa.

Minha Alegria

Minha alegria foi no teu caixão;
Deitou-se ao pé de ti, na sepultura,
A fim de acalentar teu coração
E tornar-te mais branda a terra dura.

Por isso, é para mim consolação
Esta sombria dôr que me tortura!
E ponho-me a cantar na solidão,
Meu cantico esculpido em noite escura!

Consola-me saber minha alegria
Longe de mim, perto de ti, na fria
Cova a que tu baixaste apoz a morte.

Fôste tu que m’a deste, meu amôr;
Agora, dou-t’a eu: é a minha flôr;
Eu quero que ela soffra a tua sorte.