Sonetos sobre Orgulho de Antero de Quental

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Sonetos de orgulho de Antero de Quental. Leia este e outros sonetos de Antero de Quental em Poetris.

MĂŁe…

Mãe — que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mĂŁos piedosas ate o fio
Do meu pobre existir, meio partido…

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sĂ­tio mais sombrio…
Me banhe e lave a alma lĂĄ no rio
Da clara luz do seu olhar querido…

Eu dava o meu orgulho de homem — dava
Minha estĂ©ril ciĂȘncia, sem receio,
E em débil criancinha me tornava.

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mĂŁe!

Se Comparo Poder ou Ouro ou Fama

Se comparo poder ou ouro ou fama,
Venturas que em si tĂȘm occulto o damno,
Com aquele outro affecto soberano,
Que amor se diz e Ă© luz de pura chama,

Vejo que sĂŁo bem como arteira dama,
Que sob honesto riso esconde o engano,
E o que as segue, como homem leviano
Que por um vĂŁo prazer deixa quem ama.

Nasce do orgulho aquele esteril goso
E a glĂłria d’ele Ă© cousa fraudulenta,
Como quem na vaidade tem a palma:

Tem na paixĂŁo seu brilho mais formoso
E das paixĂ”es tambem some-o a tormenta…
Mas a glĂłria do amor… essa vem d’alma!