Sonetos sobre Quadros de Manuel Maria Barbosa du Bocage

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Sonetos de quadros de Manuel Maria Barbosa du Bocage. Leia este e outros sonetos de Manuel Maria Barbosa du Bocage em Poetris.

O Céu, de Opacas Sombras Abafado

O céu, de opacas sombras abafado,
Tornando mais medonha a noite fea,
Mugindo sobre as rochas, que saltea,
O mar, em crespos montes levantado;

Desfeito em furacÔes o vento irado;
Pelos ares zunindo a solta area;
O pĂĄssaro nocturno, que vozea
No agoireiro cipreste além pousado;

Formam quadro terrĂ­vel, mas aceito,
Mas grato aos olhos meus, grato Ă  fereza
Do ciĂșme e saudade, a que ando afeito.

Quer no horror igualar-me a Natureza;
Porém cansa-se em vão, que no meu peito
HĂĄ mais escuridade, hĂĄ mais tristeza.

Sanhudo, InexorĂĄvel Despotismo

Sanhudo, inexorĂĄvel Despotismo
Monstro que em pranto, em sangue a fĂșria cevas,
Que em mil quadros horrĂ­ficos te enlevas,
Obra da Iniquidade e do AteĂ­smo:

Assanhas o danado Fanatismo,
Porque te escore o trono onde te enlevas;
Por que o sol da Verdade envolva em trevas
E sepulte a RazĂŁo num denso abismo.

Da sagrada Virtude o colo pisas,
E aos satĂ©lites vis da prepotĂȘncia
De crimes infernais o plano gizas,

Mas, apesar da bĂĄrbara insolĂȘncia,
Reinas sĂł no ext’rior, nĂŁo tiranizas
Do livre coração a independĂȘncia.