VolĂşvel do Homem Foi Sempre a Vontade
Sobre as asas do Tempo, que nĂŁo cansa,
Nossos gostos se vão, nossas paixões
Os projectos, sistemas e opiniões
Cos tempos que se mudam tem mudança.Não pode haver no mundo segurança
Entre o vário montão de inclinações,
Pois sujeita a Vontade a mil baldões
No variável moto não descansa.Nas nossas quatro épocas da idade
Temos mudanças mil: nossa fraqueza
Sujeita está, do Tempo, à variedade.Na inconstância jamais houve firmeza:
VolĂşvel do homem foi sempre a vontade,
Por defeito comum da Natureza.
Sonetos sobre Quatro de Francisco Joaquim Bingre
3 resultadosÀs Cambalhotas Sempre Anda a Través
Às cambalhotas sempre anda a través
O Mundo, sem poder-se endireitar.
Velho, bĂŞbado e tonto, a cambalear,
Já não pode suster-se sobre os pés.Tudo nele se vê hoje de invés
Pois seu eixo quebrou, anda a rolar
Não há homem que o possa consertar:
SĂł se for, do Arquitecto a mĂŁo que o fez.Tornou-se num piĂŁo: qualquer rapaz
O faz dar quatro voltas c’um cordel
E na palma da mão dançar o faz.O que hoje fez de grande o seu papel,
Amanhã representa de Gil Blás
Neste imenso teatro de Babel.
JuĂzo
Quando, nos quatro ângulos da Terra,
Troarem as trombetas ressurgentes,
Despertadoras dos mortais dormentes,
Por onde um Deus irado aos homens berra:Prontos, num campo, em apinhada serra,
Todos nus assistir devem viventes
Ao JuĂzo Final e ver, patentes,
Seus delitos, que um livro eterno encerra.Então, aberto o Céu, e o Inferno aberto,
Todos ali verĂŁo: e a sorte imensa
Duma mágoa sem fim, dum gozo certo.Verão recto juiz pesar a ofensa
Na balança integral, e o justo acerto,
Dando da vida e morte igual sentença.