Sonetos sobre Reis de Fernando Pessoa

3 resultados
Sonetos de reis de Fernando Pessoa. Leia este e outros sonetos de Fernando Pessoa em Poetris.

As Tuas MĂŁos Terminam Em Segredo

As tuas mĂŁos terminam em segredo.
Os teus olhos sĂŁo negros e macios
Cristo na cruz os teus seios (?) esguios
E o teu perfil princesas no degredo…

Entre buxos e ao pé de bancos frios
Nas entrevistas alamedas, quedo
O vendo pÔe o seu arrastado medo
Saudoso o longes velas de navios.

Mas quando o mar subir na praia e for
Arrasar os castelos que na areia
As crianças deixaram, meu amor,

SerĂĄ o haver cais num mar distante…
Pobre do rei pai das princesas feias
No seu castelo Ă  rosa do Levante !

EmissĂĄrio de um Rei Desconhecido

EmissĂĄrio de um rei desconhecido,
Eu cumpro informes instruçÔes de além,
E as bruscas frases que aos meus lĂĄbios vĂȘm
Soam-me a um outro e anĂŽmalo sentido…

Inconscientemente me divido
Entre mim e a missĂŁo que o meu ser tem,
E a glória do meu Rei då-me desdém
Por este humano povo entre quem lido…

NĂŁo sei se existe o Rei que me mandou.
Minha missĂŁo serĂĄ eu a esquecer,
Meu orgulho o deserto em que em mim estou…

Mas hå! Eu sinto-me altas tradiçÔes
De antes de tempo e espaço e vida e ser…
JĂĄ viram Deus as minhas sensaçÔes…

Entre o Bater Rasgado dos PendÔes

Entre o bater rasgado dos pendÔes
E o cessar dos clarins na tarde alheia,
A derrota ficou: como uma cheia
Do mal cobriu os vagos batalhÔes.

Foi em vão que o Rei louco os seus varÔes
Trouxe ao prolixo prélio, sem idéia.
Água que mão infiel verteu na areia —
Tudo morreu, sem rastro e sem razÔes.

A noite cobre o campo, que o Destino
Com a morte tornou abandonado.
Cessou, com cessar tudo, o desatino.

Só no luar que nasce os pendÔes rotos
Mostram no absurdo campo desolado
Uma derrota herĂĄldica de ignotos.