Sonetos sobre Sedutores

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Sonetos de sedutores escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Curta Pavana

O dorso que se curva arco elegante
desenha na memória a leve dança
da bailarina grácil, celebrante
de rito sedutor, que me balança

toda vez que me vejo tĂŁo distante,
torcendo meus desejos na lembrança
dos momentos vividos, no constante
aprendizado vasto da mudança.

Posto que a vida corre em curtas curvas,
transitória paisagem, vário atalho
que vai modificando linhas turvas.

Mutante claridade me agasalha:
no casulo do gozo de sussurros
sei-me bicho saĂ­do dessa malha.

Soneto Na Morte De José Arthur Da Frota Moreira

Cantamos ao nascer o mesmo canto
De alegria, de sĂşplica e de horror
E a mulher nos surgiu no mesmo encanto
Na mesma dĂşvida e na mesma dor.

Criamos toda a sedução, e tanto
Que de nĂłs seduzido, o sedutor
Morreu nas mesmas lágrimas de amor
Ao milagre maior do amor em pranto.

Fui um pouco teu cĂŁo e teu mendigo
E tu, como eu, mendigo de outro pĂŁo
Sempre guardaste o pĂŁo do teu amigo

Meu misterioso irmĂŁo, sigo contigo
Há tanto, tanto tempo, mĂŁo na mĂŁo…
Ouve como chora o coração.

O Seu Boné

Ă€ atriz Adelina Castro

É um boné ideal, de feltros e de plumas,
Que ela usa agora, assim como um turbante
Turco, aveludado, doce como algumas
Nuvens matinais que rolam no levante.

Lembro quando ao vĂŞ-lo a rubra marselhesa,
Lembro sensações e cousas de prodígio
E penso que ele tem a máscula grandeza
Desse sedutor, vital barrete frĂ­gio!…

Ă€s vezes meu olhar medindo-lhe o contorno
E a flácida plumagem que serve-lhe d’adorno,
— satânico, voraz, esplĂŞndido de fĂ©!

Exclama num idílio cândido e singelo,
Por entre as convulsões artĂ­sticas do Belo; —
Oh! tem coração e alma, esse bonĂ©!…

Espera

Teus minutos sĂŁo estalactites
agulhas finas de cal e água
setas refiladas de um relĂłgio
na areia do deserto clepsidra.

Caroços de fruto apodrecido
para uma nova semeadura
em colheita sem nenhum estorvo
anunciando o prĂłdigo regresso.

Que tu venhas sem a matemática
sem a tabuada fria das horas
rachar minha parede de pedra.

Que tu venhas sedutora chama
pluma de pássara renascida
vinda com teu fogo e nĂŁo com cinzas.

Evocação

Oh Lua voluptuosa e tentadora,
Ao mesmo tempo trágica e funesta,
Lua em fundo revolto de floresta
E de sonho de vaga embaladora.

Langue visĂŁo mortal e sedutora,
Dos Vergéis sederais pálida giesta,
Divindade sutil da morna sesta
Da lasciva paixĂŁo fascinadora.

Flor fria, flor algente, flor gelada
Do desconsolo e dos esquecimentos
E do anseio, da febre atormentada.

Tu que soluças pelos céus nevoentos
Longo soluço mágico de fada,
Dá-me os teus doces acalentamentos!