Sonetos sobre Sombra de Charles Baudelaire

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Sonetos de sombra de Charles Baudelaire. Leia este e outros sonetos de Charles Baudelaire em Poetris.

A Giganta

No tempo em que a Natura, augusta, fecundanta,
Seres descomunais dava Ă  terra mesquinha,
Eu quisera viver junto d’uma giganta,
Como um gatinho manso aos pĂ©s d’uma rainha!

Gosta de assistir-lhe ao desenvolvimento
Do corpo e da razĂŁo, aos seus jogos terrĂ­veis;
E ver se no seu peito havia o sentimento
Que faz nublar de pranto as pupilas sensĂ­veis

Percorrer-lhe a vontade as formas gloriosas,
Escalar-lhe, febril, as colunas grandiosas;
E Ă s vezes, no verĂŁo, quando no ardente solo

Eu visse deitar, numa quebreira estranha estranha,
Dormir serenamente Ă  sombra do seu colo,
Como um pequeno burgo ao sopé da montanha!

Tradução de Delfim Guimarães

Os Mochos

Sob os feixos onde habitam,
Os mochos formam em filas;
Fugindo as rubras pupilas,
Mudos e quietos, meditam.

E assim permanecerĂŁo
Até o Sol se ir deitar
No leito enorme do mar,
Sob um sombrio edredĂŁo.

Do seu exemplo, tirai
Proveitoso ensinamento:
— Fugí do mundo, evitai

O bulĂ­cio e o movimento…
Quem atrás de sombras vai,
SĂł logra arrependimento!

Tradução de Delfim Guimarães