Sonetos sobre Terra de Charles Baudelaire

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Sonetos de terra de Charles Baudelaire. Leia este e outros sonetos de Charles Baudelaire em Poetris.

A Giganta

No tempo em que a Natura, augusta, fecundanta,
Seres descomunais dava Ă  terra mesquinha,
Eu quisera viver junto d’uma giganta,
Como um gatinho manso aos pĂ©s d’uma rainha!

Gosta de assistir-lhe ao desenvolvimento
Do corpo e da razĂŁo, aos seus jogos terrĂ­veis;
E ver se no seu peito havia o sentimento
Que faz nublar de pranto as pupilas sensĂ­veis

Percorrer-lhe a vontade as formas gloriosas,
Escalar-lhe, febril, as colunas grandiosas;
E Ă s vezes, no verĂŁo, quando no ardente solo

Eu visse deitar, numa quebreira estranha estranha,
Dormir serenamente Ă  sombra do seu colo,
Como um pequeno burgo ao sopé da montanha!

Tradução de Delfim Guimarães

O Azar

Com peso tal, nĂŁo me ajeito;
Dá-me, Sísifo, vigor!
Embora eu tenha valor,
A Arte Ă© larga e o Tempo Estreito.

Longe dos mortos lembrados,
A um obscuro cemitério,
Minh’alma , tambor funĂ©reo,
Vai rufar trechos magoados.

— Há muitas jóias ocultas
Na terra fria, sepulturas
Onde nĂŁo chega o alviĂŁo;

Muita flor exala a medo
Seus perfumes no degredo
Da profunda solidĂŁo

Tradução de Delfim Guimarães