O Desespero do Homem de Acção
Há uma ligação muito estreita entre a adoração da acção e o uso do homem como meio de atingir fins que não são o homem. Como há uma ligação aproximada entre este desespero e a acção, entre a razão e a acção. A proeminência dos valores da acção sobre os da contemplação indica, sobretudo, que o homem abandonou totalmente a busca duma ideia aprazível do homem e o desejo de o colocar como fim. E que na impossibilidade de agir segundo um fim, ou de agir para ser homem, ele decide agir de qualquer maneira, apenas para agir.
O homem de acção é um desesperado que procura preencher o vazio do seu próprio desespero com actos ligados mecanicamente uns aos outros e compreendidos entre um ponto de início e um ponto de conclusão, ambos gratuitos e convencionais. Por exemplo, entre o ponto de início da fabricação dum automóvel e o ponto de conclusão dessa fabricação. O homem de acção suspenderá o seu desespero enquanto durar a fabricação do veículo; suspendê-lo-á precisamente porque no seu espírito fica suspensa qualquer finalidade verdadeiramente humana: sente-se meio entre os outros homens, meios como ele. Concluída a máquina ele encontrar-se-á, é verdade, mais inerte e exânime que a própria máquina,
Passagens sobre Valor
650 resultadosPoderia perguntar-se se é realmente a felicidade o valor máximo que a Humanidade procura e se não é a felicidade apenas um instrumento de alguma coisa mais fundamental do que ela.
Todas as coisas têm suas estações, até os valores estão sujeitos à moda. Mas o sábio tem uma vantagem: é eterno. Se este não é seu século, muitos outros serão.
A experiência deve ser avaliada duplamente, conforme faz subir a consciência do próprio valor ou em que medida a faz baixar.
A Minha Amada Será um Assombro de Beleza
Muitos hão-de julgar que a minha amada
Será um raro assombro de beleza.
Porém, não é assim, à Natureza
Ela só deve uma Alma bem formada.Os dotes pessoais de que é ornada
São filhos duma pura singeleza:
A constância, lealdade, amor, firmeza,
Nos versos meus a fazem decantada.O seu cândido ser só eu conheço,
O valor que ela tem não se presume:
Só eu, que os seus afectos lhe mereço.Em seu peito de Amor, não morre o lume
Eu amo um coração que não tem pressa,
Uma Alma singular, Marília, um Nume.
As obras de caridade que se praticam com tibieza e como que a medo, nenhum mérito, nem valor têm.
Observei que o carácter de quase todos os homens parece particularmente adaptado a uma certa idade da vida, de modo que nela se apresenta da forma mais proveitosa. Alguns são jovens amáveis, e depois isso passa, outros, homens enérgicos e activos, dos quais a idade rouba todos os valores. Muitos apresentam-se mais favoravelmente na velhice, quando são mais indulgentes por serem mais experientes e serenos.
São as atitudes e não as circunstâncias que determinam o valor de cada um. O que você diz, com todo respeito, é apenas o que você diz.
A Sensura
A nossa sociedade autoriza tudo o que não a incomoda. Se isto já não é plenamente verdade nos nossos dias, e se estamos em crise, é porque o interesse imediato dos que estão no poder se encontra em contradição com os valores que fundamentam este mesmo poder. É-lhes necessário, por exemplo, incentivar o consumo que os enriquece, em detrimento da moral que os legitima. Pela primeira vez, o poder fundamenta-se na confusão e não na ordem. Daí a mentira generalizada, de que a língua sofre.
A permissividade actual autoriza que se diga tudo porque este tudo já não significa nada. A palavra torna-se inofensiva por privação de sentido. A escrita sofre a mesma privação nas suas formas normalizadas: publicidade, jornalismo, best-sellers, que passam por escrita quando não o são.
O objectivo da antiga censura consistia em tornar o adversário inofensivo, privando-o dos seus meios de expressão; a nova – que denominei sensura – esvazia a expressão para a tornar inofensiva, método mais radical e menos visível.
O Verdadeiro Ócio
A verdadeira riqueza é apenas a riqueza interior da alma, tudo o resto traz mais problemas do que vantagens (Luciano). Alguém assim rico interiormente de nada precisa do mundo exterior a não ser um presente negativo, a saber, o ócio, para poder cultivar e desenvolver as suas capacidades espirituais e fruir a sua riqueza interior. Portanto, requer propriamente apenas a permissão para ser ele mesmo durante toda a sua vida, a cada dia e a cada hora. Se alguém estiver destinado a imprimir, em toda a raça humana, o traço do seu espírito, haverá para ele apenas uma felicidade e infelicidade, ou seja, a de poder aperfeiçoar as suas disposições e completar as suas obras – ou disso ser impedido. O resto é-lhe insignificante. Sendo assim, vemos os grandes espíritos de todos os tempos atribuírem o valor supremo ao ócio. Pois este vale tanto quanto o homem. A felicidade parece residir no ócio, diz Aristóteles, e Diógenes Laércio relata que Sócrates louva o ócio como a mais bela posse.
Também corresponde a isso o facto de Aristóteles declarar a vida filosófica como a mais feliz. De modo semelhante, diz na Política: “Poder exercer livremente as próprias aptidões, sejam elas quais forem,
Dou valor as coisas, não por aquilo que valem, mas por aquilo que significam
O único valor que considero revolucionário é a bondade, que é o único que conta.
Comprar em excesso é desperdício. Quem desperdiça não reconhece o valor da Vida dedicada à produção das coisas adquiridas.
Só o amor dá valor, sentido e paz à vida de cada um de nós.
Imitar o Melhor Exemplo
Caminhado os homens quase sempre pelos caminhos já por outros percorridos, e tendendo, nas suas acções, a proceder por imitação, não podem, contudo, seguir inteiramente a mesma via nem alcançar a virtude daqueles que pretendem imitar. Por tal motivo, um homem avisado deve procurar seguir as vias percorridas por grandes homens e imitar aqueles que atingiram o mais elevado patamar de excelência, de modo que, se não pudermos igualar a sua virtude, deles vos fique, ao menos, o perfume do seu valor. É o que fazem os archeiros habilidosos, os quais, parecendo-lhes muito distante o alvo que desejam atingir, e, conhecendo bem as limitações de alcance do seu arco, fazem pontaria para um ponto muito mais alto do que o alvo, não para aí acertar com as suas flechas, mas, sim, para, com a ajuda de tão elevada mira, poderem bater o alvo pretendido.
O que custa caro é que tem valor.
A liberdade é a base necessária para o desenvolvimento de todos os valores verdadeiros.
Aprender a Ceder
Aos sonhos, como aos pesadelos, chega sempre a hora de acordar. É essencial compreender a realidade, viver de olhos abertos, acolher a simplicidade da vida antes de querer resolver a complexidade do mundo.
Cada um de nós tem o seu lugar no mundo, talvez a ninguém caiba o do centro. Nas nossas relações com o mundo, com os outros e connosco, é mais sábio aceitar do que impor, admirar do que exibir, amar do que procurar ser amado…
Viver é aprender a ceder. A libertarmo-nos de nós mesmos. Só o nosso espírito nos pode soltar porque só ele nos aprisiona. Ser autenticamente feliz depende de uma transformação na forma de olharmos o mundo, aceitando-o sem grandes condições e agindo sem precipitações. Cedendo. Cedendo, sempre. Pois que é melhor manter um amigo do que ficar com a razão, mas sozinho. Há que abrir espaços em nós para que a serenidade que assim se alcança convide a felicidade a fazer do nosso espírito morada sua.A humildade e a simplicidade são formas de ser, não de parecer.
Um erro comum é querer ser tudo já. Nunca nada chega… e são tantas vezes as saudades a revelarem-nos o verdadeiro valor dos instantes vividos mas já passados.
Não julgue pelo que ouviu dizer. Afira, com convicção, para formar juízo de valor. Boatos existem e devem ser considerados como tal. Ao julgar sem embasamento pode-se cometer o mais abominável dos erros.
Construir uma Personalidade
Nem todos estão predestinados a terem a oportunidade de criar a sua própria personalidade, a maioria permanece numa cópia de um tipo de personalidade, sem nunca chegarem à experiência de se tornarem um indivíduo com identidade própria. Mas aqueles que o conseguem, inevitavelmente descobrem que a luta pela personalidade envolve o conflito com as vidas normais das pessoas comuns e os valores tradicionais e convenções burguesas que defendem. A personalidade é o produto do confronto entre duas forças opostas, o impulso de criar uma vida própria, e a insistência do mundo que nos rodeia em que nos conformemos a ele. Ninguém consegue desenvolver uma personalidade a menos que esteja mentalizado para passar por experiências revolucionárias. A extensão dessas experiências difere, claro, de pessoa para pessoa, assim como a capacidade de conduzirem uma vida que é verdadeiramente pessoal e única.