As enfermidades de espirito é o tempo e a distracção que as cura.
Passagens de Camilo Castelo Branco
285 resultadosNinguém sente em si o amor que inspira e não comparte.
As lágrimas que vêm de longe são as que mais nos doem no coração.
O homem de talento é sempre um mau homem. Alguns conheço eu que o mundo proclama virtuosos, e sábios. Deixá-los proclamar. O talento não é a sabedoria. Sabedoria é o trabalho incessante do espirito sobre a ciência. O talento é a vibração convulsiva do espirito, a originalidade inventiva e rebelde à autoridade, a viagem extática pelas regiões incógnitas da ideia.
O homem, verdadeiramente amante, desconfia sempre de si, receia sempre a sua inferioridade para merecer recompensa da mulher que, muitas vezes, não exige grandes provas.
A maior alma é sempre insignificante ao pé da pequeníssima alma em cuja dependência está.
A pureza é o elo interposto à flor e à estrela em mistura de inocência.
A ignorância é o abismo da fé, porque a fé é um acto da inteligência.
Neste mundo ha só duas cousas que me afligem: são os maus charutos, e madrugadas antes da uma hora da tarde. No mais entendo que este globo é o melhor de todos para quem não tiver calos e reumatismo.
Amigos verdadeiros são os que nos acodem inopinados com valedora mão nas tormentas desfeitas.
Eu sou escravo do coração: é este que me fala em nome de um anjo, e me promete uma felicidade, que nem eu sei concebê-la… é um sonho o teu amor.
Todo o homem, por criminoso que seja em demasia, tem o momento da consciência, e o da contrição.
Este Amor Infinito e Imaculado
Querida, o teu viver era um letargo,
Nenhuma aspiração te atormentava;
Afeita já do jugo ao duro cargo,
Teu peito nem sequer desafogava.
Fui eu que te apontei um mundo largo
De novas sensações; teu peito ansiava
Ouvindo-me contar entre caricias,
Do livre e ardente amor tantas delicias!Não te mentia, não. Sentiste-o, filha,
Esse amor infinito e imaculado,
Estrela maga que incessante brilha
Da alma pura ao casto amor sagrado;
Afecto nobre que jamais partilha
O coracão de vícios ulcerado.
Não sentes, nem recordas, já sequer?
Quem deste amor te despenhou, mulher ?Eu não! Se muitos crimes me desluzem,
Se pôde transviar-me o seu encanto,
Ao menos uma só não me recusem,
Uma virtude só: amar-te tanto!
Embora injúrias contra mim se cruzem,
Cuspindo insultos neste amor tão santo,
Diz tu quem fui, quem sou, e se é verdade
O opróbrio aviltador da sociedade.
O amor indómito, fremente e tempestuoso é um naufrágio que se ama, uma dor com que se brinca, e, enfim, um delírio honroso em qualquer criatura.
A felicidade, à custa de lágrimas alheias, é uma traição aos nossos gozos: é um licor saboroso em taça de prata, com fezes no fundo, fezes que afinal somos obrigados a tragar.
A infância é como a água que desce da bica, e nunca mais sobe.
Pode-se morrer mais do que uma vez. A sepultura é que é só uma para cada homem.
O poeta desmente as leis fisiológicas, vivendo do princípio vital de uma única entranha: o coração.
Não há desgraça absoluta debaixo do céu. Todos somos infelizes, quando olhamos a medalha por uma só das faces.
As lágrimas são o desafogo das dores que vivem no cérebro normal.