Passagens de Andrea Dworkin

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Feminismo é odiado porque as mulheres são odiadas. Antifeminismo é uma expressão direta de misoginia; é a defesa política do ódio às mulheres.

Feministas são frequentemente questionadas se pornografia causa estupro. O fato é que estupro e prostituição originaram e continuam a originar a pornografia. Politicamente, culturalmente, socialmente, sexualmente, e economicamente, estupro e prostituição geram pornografia; e a pornografia depende do estupro e da prostituição de mulheres para sua existência contínua.

Casamento como uma instituição desenvolveu-se do estupro como uma prática. Estupro, originalmente definido como abdução, tornou-se casamento por captura. Casamento significava que a tomada seria extendida em tempo, para ser não somente de uso mas de posse, ou propriedade.

Homens caracterizam pornografia como algo mental porque as mentes deles, os pensamentos deles, os sonhos deles, as fantasias deles, são mais reais para eles que os corpos ou vidas das mulheres; de fato, homens têm usado seu poder social para caracterizar um comércio de mulheres de 10$ bilhões ao ano como fantasia.

Nesta sociedade, a norma da masculinidade é agressão fálica. Sexualidade masculina é, por definição, intensamente e rigidamente fálica. A identidade de um homem é situada na sua concepção de si mesmo como o possuidor de um falo; o valor de um homem é localizado no orgulho dele em identidade fálica. A característica principal da identidade fálica é que o valor é inteiramente contingente na posse de um falo. Já que os homens não têm nenhum outro critério de valor, nenhuma outra noção de identidade, aquelas que não possuem falos não são reconhecidas como completamente humanas.

Inteligência selvagem abomina qualquer mundo estreito; e o mundo das mulheres deve permanecer estreito, ou a mulher é uma fora da lei. Nenhuma mulher poderia ser Nietzsche ou Rimbaud sem terminar em um prostíbulo ou lobotomizada.

Um homem pode ser um herói se ele é um cientista, ou um soldado, ou um viciado em drogas, ou um locutor, ou um medíocre político mesquinho. Um homem pode ser um herói porque ele sofre e se desespera; ou porque ele pensa logicamente e analiticamente; ou porque ele é “sensível”; ou porque ele é cruel. Riqueza estabelece um homem como um herói, assim como a pobreza. Virtualmente qualquer circunstância na vida de um homem o tornará um herói para algum grupo de pessoas e tem uma versão mítica na cultura — na literatura, arte, teatro, ou nos jornais diários.

A mulher não nasce: ela é feita. No fazer, sua humanidade é destruída. Ela se torna símbolo disto, símbolo daquilo: mãe da terra, puta do universo; mas ela nunca se torna ela mesma porque é proibido para ela fazê-lo.

A masculinidade só pode ser experimentada, alcançada, reconhecida, e personificada em oposição à feminilidade. Quando os homens colocam sexo, violência, e morte como verdades eróticas elementares, eles pretendem dizer isto — que sexo, ou foder, é o ato que os possibilita experimentarem sua própria realidade, ou identidade, ou masculinidade o mais concretamente; que violência, ou sadismo, é o meio pelo qual ele efetiva essa realidade, ou identidade, ou masculinidade; e que a morte, ou a negação, ou a inexistência, ou a contaminação pela fêmea é o que eles arriscam cada vez que penetram no que eles imaginam ser o vazio do buraco da fêmea.

Pornografia é a sexualidade essencial do poder masculino: de ódio, de posse, de hierarquia; de sadismo, de dominância.

Nós pensamos que vivemos em uma sociedade heterossexual porque a maioria dos homens está fixada nas mulheres como objetos sexuais; mas, de fato, nós vivemos em uma sociedade homossexual porque todas as transações críveis de poder, autoridade, e autenticidade realizam-se entre homens; todas as transações baseadas em igualdade e individualidade realizam-se entre homens. Homens são reais; portanto, todo relacionamento real acontece entre homens; toda comunicação real acontece entre homens; toda reciprocidade real acontece entre homens; toda mutualidade real acontece entre homens.

A natureza da opressão das mulheres é única: as mulheres são oprimidas enquanto mulheres, sem considerações de classe ou raça; algumas mulheres têm acesso à riqueza significativa, mas essa riqueza não significa poder; mulheres podem ser encontradas em todo lugar, mas não possuem ou controlam nenhum território apreciável; mulheres vivem com aqueles que as oprimem, dormem com eles, têm seus filhos — nós estamos entrelaçadas, desesperadamente parece, nas entranhas do mecanismo e do modo de vida que é danoso para nós.

Feministas têm uma visão das mulheres, até das mulheres, como seres humanos individuais; e esta visão aniquila o sistema de polaridade de gênero em que os homens são superiores e poderosos. Esta não é uma noção burguesa de individualidade; não é uma noção auto-indulgente de individualidade; ela é o reconhecimento que cada ser humano vive uma vida separada em um corpo separado e morre sozinho.

Feminismo requer precisamente o que a misoginia destrói nas mulheres: bravura incontestável em confrontar o poder masculino. Apesar da impossibilidade disso, há tal bravura: essas mulheres existem, em alguns períodos milhões e milhões delas.

Homens são recompensados por aprender a prática da violência em virtualmente qualquer esfera de atividade, por dinheiro, admiração, reconhecimento, respeito, e genuflexão de outros honrando a sagrada e provada masculinidade deles. Na cultura masculina, policiais são heróicos e assim também são os criminosos; machos que impõem regras são heróicos e assim também são aqueles que as violam.

Para uma mãe, o projeto de criar um menino é o projeto mais satisfatório que ela pode esperar. Ela pode assistí-lo, enquanto uma criança, brincar com os jogos que ela não era autorizada a brincar; ela pode investir nele suas ideias, aspirações, ambições, e valores — ou tudo o que tenha sobrado delas; ela pode assistir ao seu filho, que veio da sua carne e cuja vida foi sustentada pelo seu trabalho e devoção, personificá-la no mundo. Então, enquanto o projeto de criar um menino é repleto de ambivalência e leva inevitavelmente à amargura, ele é o único projeto que permite a uma mulher ser — ser através do seu filho, viver por meio do seu filho.

Os rituais de sadismo masculino contra os corpos das mulheres são os meios pelos quais a agressão masculina é socializada de modo que um homem possa associar-se com outros homens sem o perigo iminente de agressão masculina contra sua própria pessoa. O projeto erótico comum de destruir mulheres torna possível aos homens se unirem em uma irmandade; este projeto é a única base firme e confiável para cooperação entre machos e todo laço masculino é baseado nisto.

Sexismo é a fundação onde toda tirania é construída. Toda forma social de hierarquia e abuso é moldada a partir da dominação do macho sobre a fêmea.

Pornografia é usada no estupro — para planejá-lo, para executá-lo, para coreografá-lo, para gerar a excitação em cometer o ato.

Pornografia é a destruição orquestrada de corpos e almas de mulheres; estupro, agressão, incesto, e prostituição a impulsionam; desumanização e sadismo caracterizam-na; ela é a guerra sobre as mulheres, violações em série na dignidade, identidade, e valor humano; ela é tirania. Cada mulher que tem sobrevivido sabe da experiência de sua própria vida que pornografia é escravidão — a mulher presa na imagem usada sobre a mulher presa onde quer que ele tenha aprisionado ela.