Passagens de Honoré de Balzac

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Era uma daquelas existências anônimas, entomológicas, como existem em certo imóveis, onde se fica sabendo, no fim de quatro anos, que existe um velho senhor no quarto andar que conheceu Voltaire, Pilastre de Rosier, Beaujou, Marcel, Mole, Sophie Arnould, Franklin e Robespierre.

As paixões perdoam tão pouco quanto as leis humanas, e raciocinam com mais justeza: não se apoiam elas numa consciência que lhes é própria, infalível como o é um instinto?

Um Eu demasiado poderoso é uma prisão da qual um homem deve evadir-se se deseja gozar plenamente os bens deste mundo.

Imoralidade Fatal

A acusação de imoralidade, que nunca faltou ao escritor corajoso, é aliás a última que resta a fazer quando não se tem mais nada a dizer a um poeta. Se fordes verdadeiro em vossas pinturas; se, à força de trabalhos diurnos e nocturnos, conseguirdes escrever a língua mais difícil do mundo, atiram-se-vos a palavra imoral ao rosto. Sócrates foi imoral, Jesus Cristo foi imoral; ambos foram perseguidos em nome das sociedades que derrubavam ou reformavam. Quando se quer matar alguém, acusam-no de imoralidade.

Censuram-se severamente defeitos à virtude, ao passo que se não poupa indulgência para as qualidades do vício.

Sentimentos e Interesses

Jamais os moralistas conseguirão fazer compreender toda a influência que os sentimentos exercem sobre os interesses. Essa influência é tão poderosa como a dos interesses sobre os sentimentos. Todas as leis da natureza têm um duplo efeito, em sentido inverso um do outro.

A fonte será, pois, mais graciosa do que o rio, o desejo mais encantador do que o gozo, e o que se espera mais atraente do que aquilo que se possui?