HĂĄ Um PaĂs Imenso Mais Real
HĂĄ um paĂs imenso mais real
Do que a vida que o mundo mostra Ter
Mais do que a Natureza natural
à verdade tremendo de viver.Sob um céu uno e plåcido e normal
Onde nada se mostra haver ou ser
Onde nem vento geme, nem fatal
A idĂ©ias de uma nuvem se faz crer,Jaz – uma terra nĂŁo – nĂŁo hĂĄ um solo
Mas estranha, gelando em desconsolo
Ă alma que vĂȘ esse paĂs sem vĂ©u,Hirtamente silente nos espaços
Uma floresta de escarnados braços
Inutilmente erguidos para o céu.
Sonetos sobre Vento de Fernando Pessoa
3 resultadosA Minha Vida Ă© um Barco Abandonado
A minha vida Ă© um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que nĂŁo ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando Ă tona inĂștil da saudade.Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.
Como uma Voz de Fonte que Cessasse
Como uma voz de fonte que cessasse
(E uns para os outros nossos vĂŁos olhares
Se admiraram), pâra alĂ©m dos meus palmares
De sonho, a voz que do meu tĂ©dio nasceParou… Apareceu jĂĄ sem disfarce
De mĂșsica longĂnqua, asas nos ares,
O mistério silente como os mares,
Quando morreu o vento e a calma pasce…A paisagem longĂnqua sĂł existe
Para haver nela um silĂȘncio em descida
Pâra o mistĂ©rio, silĂȘncio a que a hora assiste…E, perto ou longe, grande lago mudo,
O mundo, o informe mundo onde hĂĄ a vida…
E Deus, a Grande Ogiva ao fim de tudo…