Duas Espécies de Génio
HĂĄ duas espĂ©cies de gĂ©nio: um que, antes de mais, fecunda e quer fecundar outros, e outro que prefere ser fecundado e parir. E da mesma maneira hĂĄ entre os povos geniais aqueles a quem coube o problema feminino da gravidez e a missĂŁo secreta de formar, amadurecer e aperfeiçoar – os gregos, por exemplo, foram um povo desta espĂ©cie, assim como os franceses – ; e outros que tĂȘm de fecundar e ser a causa de novas ordens de vida, – como os judeus, os romanos e talvez, perguntando-se com toda a modĂ©stia, os alemĂŁes? – povos atormentados e extasiados com febres desconhecidas e irresistivelmente impelidos para fora de si prĂłprios, apaixonados e ĂĄvidos de raças estranhas (aqueles que se «deixam fecundar» -) e, com tudo isso, ĂĄvidos de domĂnio, como tudo o que se sabe cheio de força geradora e, por conseguinte, escolhido «pela graça de Deus». Estas duas espĂ©cies procuram-se como o homem e a mulher; mas tambĂ©m se dĂŁo mal mutuamente, – como o homem e a mulher.
Textos sobre AlemĂŁes de Friedrich Nietzsche
2 resultadosA Felicidade e a Virtude NĂŁo SĂŁo Argumentos
NinguĂ©m tomarĂĄ facilmente por verdadeira uma doutrina somente porque ela torna felizes ou virtuosos os homens: exceptuando, talvez, os amĂĄveis «idealistas» que se entusiasmam pelo Bom, o Verdadeiro, o Belo e fazem nadar, no seu charco, toda a espĂ©cie de variegadas, pesadonas e bonacheironas idealidades. A felicidade e a virtude nĂŁo sĂŁo argumentos. Mas de bom grado se esquece, mesmo os espĂritos ponderados, que tornar infeliz e tornar mau nĂŁo sĂŁo tĂŁo-pouco contra-argumentos. Uma coisa deveria ser certa, embora fosse muitĂssimo prejudicial e perigosa; seria atĂ© possĂvel fazer parte da estrutura bĂĄsica da existĂȘncia o perecermos por causa do nosso conhecimento total, – de forma que a força de um espĂrito se mediria justamente pela quantidade de «verdade» que era capaz de suportar ou, mais claramente, pelo grau em que necessitasse de a diluir, velar, adocicar, embotar, falsificar. Mas estĂĄ fora de dĂșvida o facto de os maus e infelizes serem mais favorecidos e terem maior possibilidade de ĂȘxito na descoberta certas partes da verdade; para nĂŁo falar dos maus que sĂŁo felizes, – espĂ©cie que os moralistas passam em silĂȘncio.
Ă possĂvel que a dureza e a astĂșcia forneçam, para o desenvolvimento do espĂrito e do filĂłsofo firmes e independentes,