Textos sobre Astros

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Textos de astros escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Uma Direcção, e Não SoluçÔes

A diferença entre solução e direcção Ă© esta: a solução Ă© sempre um remĂ©dio passageiro para disfarçar a desgraça. Ao passo que a direcção Ă© a prĂłpria dignidade posta nas mĂŁos do desgraçado para que deixe de o ser, e a direcção Ășnica Ă© a garantia perpĂ©tua dessa dignidade. E foi o que fez Goethe: Descobriu a direcção Ășnica. Artista, na verdadeira acepção da palavra; Artista Ă© aquele que precede a prĂłpria ciĂȘncia. Por isso Goethe afastou-se de quantas realidades irrealizĂĄveis onde costumam habitar instaladas as gentes. E impassĂ­vel, desde cima, assistiu ao desenrolar da tragĂ©dia. E viu o mundo inteiro por cima de todas as cabeças, e viu a Europa toda e com cada um dos seus pedaços, e viu cada indivĂ­duo da Humanidade como um pequenino astro tonto que nem sabe sequer ir na parĂĄbola da sua prĂłpria trajectĂłria, e viu que de todos os seres deste mundo o Ășnico que errava o seu fim era o Homem, o dono da Terra! E viu que era na Humanidade que estavam os Ășnicos seres deste mundo que nĂŁo cumpriam com o seu prĂłprio destino, e finalmente viu! Viu com os seus prĂłprios olhos o que ninguĂ©m tinha visto antes dele.

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A DĂĄdiva da EvidĂȘncia de Si

Que havia, pois, mais para a vida, para responder ao seu desafio de milagre e de vazio, do que vivĂȘ-la no imediato, na execução absoluta do seu apelo? Eliminar o desejo dos outros para exaltar o nosso. Queimar no dia-a-dia os restos de ontem. Ser sĂł abertura para amanhĂŁ. A vida real nĂŁo eram as leis dos outros e a sua sanção e o seu teimoso estabelecimento de uma comunidade para o furor de uma plenitude solitĂĄria. O absoluto da vida, a resposta fechada para o seu fechado desafio sĂł podia revelar-se e executar-se na uniĂŁo total com nĂłs mesmos, com as forças derradeiras que nos trazem de pĂ© e sĂŁo nĂłs e exigem realizar-se atĂ© ao esgotamento. Este «eu» solitĂĄrio que achamos nos instantes de solidĂŁo final, se ninguĂ©m o pode conhecer, como pode alguĂ©m julgĂĄ-lo? E de que serve esse «eu» e a sua descoberta, se o condenamos Ă  prisĂŁo? SabĂȘ-lo Ă© afirmĂĄ-lo! ReconhecĂȘ-lo Ă© dar-lhe razĂŁo. Que ignore isso o que ignora que Ă©. Que o despreze e o amordace o que vive no dia-a-dia animal. Mas quem teve a dĂĄdiva da evidĂȘncia de si, como condenar-se a si ao silĂȘncio prisional? NinguĂ©m pode pagar, nada pode pagar a gratuitidade deste milagre de sermos.

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Abraça-me

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a nĂŁo ser este relĂąmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidĂĄvel de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. DĂĄ-me a beber, antes, a ĂĄgua dos teus beijos, para que possa levĂĄ-la comigo e oferecĂȘ-la aos astros pequeninos.
Só essa ågua farå reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.

Quantos SĂ©culos Precisa um EspĂ­rito para Ser Compreendido?

Os maiores acontecimentos e os maiores pensamentos – mas os maiores pensamentos sĂŁo os maiores acontecimentos – sĂŁo os que mais tarde se compreendem: as geraçÔes que lhes sĂŁo contemporĂąneas nĂŁo vivem esses acontecimentos, – passam por eles. Acontece aqui algo de anĂĄlogo ao que se observa no domĂ­nio dos astros. A luz das estrelas mais distantes chega mais tarde aos homens; e antes da sua chegada, os homens negam que ali – existam estrelas. “Quantos sĂ©culos precisa um espĂ­rito para ser compreendido?” – aĂ­ estĂĄ tambĂ©m uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessĂĄrias: para o espĂ­rito e para a estrela.

Gosto das Belas Coisas Claras e Simples

Para quĂȘ alcançar os astros?! Para quĂȘ?! Para os desfolhar, por exemplo, como grandes flores de luz! VĂȘ-los, vĂȘ-os toda a gente. De que serve entĂŁo ser poeta se se Ă© igual Ă  outra gente toda, ao rebanho?… Eu nĂŁo peço Ă  Vida nada que ela me nĂŁo tivesse prometido, e detesto-a e desdenho-a porque nĂŁo soube cumprir nem uma das suas promessas em que, ingenuamente, acreditei, porque me mentiu, porque me traiu sempre. Mas nĂŁo choro, nĂŁo, como os portugueses chorĂ”es, nĂŁo tenho nada de Jere­mias, pareço-me antes com Job, revoltado, gritando impreca­çÔes no seu monte de estrume. NĂŁo gosto de lĂĄgrimas, de fados nem de guitarras, gosto das belas coisas claras e sim­ples, das grandes ternuras perfeitas, das doces compreensĂ”es silenciosas, gosto de tudo, enfim, onde encontro um pouco de Beleza e de Verdade, de tudo menos do bĂ­pede humano, em geral, Ă© claro, porque hĂĄ ainda no mundo, graças a Deus, almas-astros onde eu gosto de me reflectir, almas de sinceri­dade e de pureza sobre as quais adoro debruçar a minha.