Conhecidos de Vista
Conhecem-se hĂĄ meses de vista, do bairro onde vivem, de se verem na rua, no supermercado, no cafĂ©, de passearem os cĂŁes no jardim. Ela mora dois prĂ©dios ao lado do dele, nĂŁo sabe o seu nome, nem o que faz, mas conhece-lhe algumas rotinas, jĂĄ ouviu a sua voz, aprecia a forma de ele se vestir. Acha-o atraente e fica atenta quando o vĂȘ.
Ele gosta de levar um livro consigo quando vai com o cĂŁo ao jardim. Senta-se num banco a ler, mas, se ela chega, nĂŁo consegue concentrar-se. Finge que lĂȘ, espreita-a por cima do livro, maravilhado com o seu jeito distraĂdo de caminhar num vaivĂ©m constante enquanto fala ao telemĂłvel, rodando o vestido numa volta graciosa ao fim de alguns passos casuais. Adora o seu sorriso encantador, o modo como inclina a cabeça para trĂĄs e lança um risinho espontĂąneo para o ar a meio da conversa.
Ă sĂĄbado, estĂŁo sentados numa esplanada do jardim, ambos sozinhos, em mesas prĂłximas, frente a frente. Ela pede um cafĂ©, deita o açĂșcar, mexe-o demoradamente com a colher, distraĂda a observĂĄ-lo a ler o jornal. Fantasia que ele vai erguer os olhos a qualquer instante e surpreendĂȘ-la a olhar,
Textos sobre CĂŁes de Tiago Rebelo
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