Textos sobre Curiosidade de Baltasar Gracián

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Textos de curiosidade de Baltasar Gracián. Leia este e outros textos de Baltasar Gracián em Poetris.

Nunca Exagerar

Grande matéria de consideração é não falar por superlativos, seja para não se expor a ofender a verdade, seja para não desdourar a sua cordura. As exagerações são prodigalidades do estimar, que dão início de curteza de conhecimento e gosto. A louvação desperta viva curiosidade, pica o desejo, mas depois, não equivalendo o valor ao apreço, como de ordinário acontece, a expectativa volta-se contra o engano e desforra-se no menosprezo pelo celebrado e por quem celebrou. Anda, pois, o cordo bem devagar, e mais quer pecar pelo pouco que pelo muito. Raras são as eminências: modere-se a estimativa. O encarecer é parente do mentir, e nele se perde o crédito de bom gosto, que é grande, e o de douto, que é maior.

Moderar as Expectativas

Ordinário desaire de tudo o que é muito celebrado antes é não chegar depois ao excesso do que foi concebido. Nunca o verdadeiro pôde alcançar o imaginado, porque fingir perfeições é fácil; difícil é consegui-las. Casa-se a imagi­nação com o desejo e concebe sempre muito mais do que as coisas são. Por maiores que sejam as excelências, não bastam para satisfazer o conceito, e, se o enganam com exorbitante expectação, é mais rápido o desengano que a admiração. A esperança é grande falsificadora da verdade: que a cordura a corrija, fazendo que a fruição seja superior ao desejo. Princípios de crédito servem para despertar a curiosidade, não para empenhar o obje­cto. Melhor resulta quando a realidade excede o conceito e é mais do que se acreditou. Essa regra faltará no que é mau, pois ajuda-o a própria exageração; desmente-a o aplauso, chegando a parecer tolerável o que se temeu ser ruim ao extremo.