NĂłs Nunca Nos Entendemos

Após uma boa hora de conversa, entendemo-nos perfeitamente. Amanhã vem ter comigo com as mãos na cabeça, gritando:
– Como Ă© possĂ­vel? O que Ă© que vocĂȘ percebeu? NĂŁo me disse isto e isto?
Isto e isto, perfeitamente. Mas o problema Ă© que vocĂȘ, meu caro, nunca saberĂĄ nem eu lhe poderei nunca dizer como se traduz, em mim, aquilo que vocĂȘ me disse. NĂŁo falou turco, nĂŁo. Eu e vocĂȘ usĂĄmos a mesma lĂ­ngua, as mesmas palavras. Mas que culpa temos nĂłs de que as palavras, em si, sejam vazias? Vazias, meu caro. Ao dizĂȘ-las a mim, vocĂȘ preenche-as com o seu sentido; e eu, ao recebĂȘ-las, inevitavelmente preencho-as com o meu sentido. PensĂĄmos que nos entendĂ­amos; de facto, nĂŁo nos entendemos.
E conto velho também é o facto de o sabermos. Eu não pretendo dizer nada de novo. Apenas volto a perguntar-lhe:
– Porque continua, entĂŁo, a proceder como se nĂŁo o soubesse? Porque continua a falar-me de si se sabe que para ser para mim como Ă© para vocĂȘ mesmo e para eu ser, para si, como sou para mim, seria preciso que eu, dentro de mim, lhe desse a mesma realidade que vocĂȘ dĂĄ a si mesmo,

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