Passagens sobre Sentidos

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Frases sobre sentidos, poemas sobre sentidos e outras passagens sobre sentidos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Tecido

O texto tem sua face
de avesso na superfície:
é dia e noite, sintaxe
do que se pensa, ou se disse.

Tudo no texto é disfarce,
ritual de voz e artifício,
como se tudo falasse
por si mesmo, na planície.

Seja por dentro ou por fora,
seja de lado ou durante,
o texto é sempre demora:

o descompasso da escrita
e da leitura no grande
intervalo dos sentidos.

Interessa que não haja elitismo nem classismo de qualquer espécie no ensino não estatal. Nesse sentido a actividade fiscalizadora do sector público terá de ser cuidadosa.

Qual é o sentido da nossa vida em especial, e qual o sentido da vida de todos os seres em geral? Saber responder a esta pergunta equivale a ser-se religioso. Hão-de perguntar: fará sentido pôr-se esta questão? Respondo: Quem considere a sua própria vida e a dos seus semelhantes como desprovida de sentido, não é somente infeliz, como ainda incapaz de viver.

Não falsear a amante, é falsear o amor. Quem não incutir na mulher amada o temor de o perder, não lhe dá o desejo de o conservar. O coração vive de inquietação; a grande arte dos paixonistas é a de alimentarem o coração no sentido de o fazer viver.

Sentimento do Tempo

Os sapatos envelheceram depois de usados
Mas fui por mim mesmo aos mesmos descampados
E as borboletas pousavam nos dedos de meus pés.
As coisas estavam mortas, muito mortas,
Mas a vida tem outras portas, muitas portas.
Na terra, três ossos repousavam
Mas há imagens que não podia explicar; me ultrapassavam.
As lágrimas correndo podiam incomodar
Mas ninguém sabe dizer porque deve passar
Como um afogado entre as correntes do mar.
Ninguém sabe dizer porque o eco embrulha a voz
Quando somos crianças e ele corre atrás de nós.
Fizeram muitas vezes minha fotografia
Mas meus pais não souberam impedir
Que o sorriso se mudasse em zombaria
E um coração ardente em coisa fria.
Sempre foi assim: vejo um quarto escuro
Onde só existe a cal de um muro.
Costumo ver nos guindastes do porto
O esqueleto funesto de outro mundo morto
Mas não sei ver coisas mais simples como a água.
Fugi e encontrei a cruz do assassinado
Mas quando voltei, como se não houvesse voltado,
Comecei a ler um livro e nunca mais tive descanso.

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O Amor pela Humanidade Começa

As paixões diminuem com a idade. O amor, que não deve ser classificado entre as paixões, diminui da mesma maneira. O que perde por um lado recupera por outro. Já não é severo para o objecto dos seus desejos, fazendo justiça a si mesmo: a expansão é aceite. Os sentidos já não possuem o seu aguilhão para excitar os sexos da carne. O amor pela humanidade começa. Nesses dias em que o homem sente que se torna um altar ornado pelas suas virtudes, feitas as contas de cada dor que se revelou, a alma, num recôndito do coração onde tudo parece ter origem, sente qualquer coisa que já não palpita. Referi-me à recordação.

Eu detestaria concluir que, sem Deus, a vida não teria sentido e, depois de dar um tiro nos miolos, ler no jornal no dia seguinte que Ele foi encontrado.

Cada princípio é um juízo, cada juízo é o resultado de uma experiência e a experiência só se adquire com o exercício dos sentidos.

No Amor é a Alma aquilo que Mais nos Toca

As mesmas paixões são bastante diferentes nos homens. O mesmo objecto pode-lhes agradar por aspectos opostos; suponho que vários homens podem prender-se a uma mesma mulher; uns a amam pelo seu espírito, outros pela sua virtude, outros pelos seus defeitos, etc. E pode até acontecer que todos a amem por coisas que ela não tem, como quando se ama uma mulher leviana a quem se julga séria. Pouco importa, a gente prende-se à idéia que se tem prazer em fazer dela; e é mesmo apenas essa idéia que se ama, não é a mulher leviana. Assim, não é o obje­to das paixões que as degrada ou as enobrece, mas a ma­neira como a gente o encara.
Ora, eu disse que era pos­sível que se buscasse no amor algo mais puro do que o interesse dos nossos sentidos. Eis o que me faz pensar assim. Vejo todos os dias no mundo que um homem cer­cado de mulheres com as quais nunca falou, como na missa, no sermão, nem sempre se decide pela mais boni­ta, ou mesmo pela que lhe pareça tal. Qual a razão disso? É que cada beleza exprime um carácter bem particular, e preferimos aquele que melhor se encaixa no nosso.

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Do Sentimento Trágico da Vida

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

A Indagação das Causas e dos Princípios

Visto que esta ciência (a filosofia) é o objecto das nossas indagações, examinemos de que causas e de que princípios se ocupa a filosofia como ciência; questão que se tomará muito mais clara se examinarmos as diversas ideias que formamos do filósofo. Em primeiro lugar, concebemos o filósofo principalmente como conhecedor do conjunto das coisas, enquanto é possível, sem contudo possuir a ciência de cada uma delas em particular. Em seguida, àquele que pode alcançar o conhecimento de coisas difíceis, aquelas a que só se chega vencendo graves dificuldades, não lhe chamaremos filósofo? De facto, conhecer pelos sentidos é uma faculdade comum a todos, e um conhecimento que se adquire sem esforço em nada tem de filosófico. Finalmente, o que tem as mais rigorosas noções das causas, e que melhor ensina estas noções, é mais filósofo do que todos os outros em todas as ciências. E, entre as ciências, aquela que se procura por si mesma, só pelo anseio do saber, é mais filosófica do que a que se estuda pelos seus resultados; assim como a que domina as mais é mais filosófica do que a que se encontra subordinada a qualquer outra. Não, o filósofo não deve receber leis,

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No Amor Começa-se Sempre a Zero

Fazer um registo de propriedade é chato e difícil mas fazer uma declaração de amor ainda é pior. Ninguém sabe como. Não há minuta. Não há sequer um despachante ao qual o premente assunto se possa entregar. As declarações de amor têm de ser feitas pelo próprio. A experiência não serve de nada — por muitas declarações que já se tenham feito, cada uma é completamente diferente das anteriores. No amor, aliás, a experiência só demonstra uma coisa: que não tem nada que estar a demonstrar coisíssima nenhuma. É verdade — começa-se sempre do zero. Cada vez que uma pessoa se apaixona, regressa à suprema inocência, inépcia e barbárie da puberdade. Sobem-nos as bainhas das calças nas pernas e quando damos por nós estamos de calções. A experiência não serve de nada na luta contra o fogo do amor. Imaginem-se duas pessoas apanhadas no meio de um incêndio, sem poderem fugir, e veja-se o sentido que faria uma delas virar-se para a outra e dizer: «Ouve lá, tu que tens experiência de queimaduras do primeiro grau…»

Pode ter-se sessenta anos. Mas no dia em que o peito sacode com as aurículas a brincar aos carrinhos-de-choque com os ventrículos,

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Estar bem disposto é uma mistura de sentido de proporção, sentido de humor, capacidade de disfarce, e vontade de agradar. É raro ver um português bem disposto. O melhorzinho que se arranja hoje em dia é a nossa versão anos 90 da sociabilidade, que não consiste em estar bem disposto mas em estar «disponível». Como quem diz: «Eu por mim não me vou dispor bem, mas se houver aí alguém que se queira aventurar, estou disposta a deixá-lo mexer na minhas peças a ver se acerta e me põe bem…».

Sim, eu sou um homem e choro. Um homem não tem olhos ? Não tem também mãos, sentidos, inclinações, paixões ? Porque é que um homem não devia chorar?

E eu disse-lhe: o melhor da vida é o seu impossível. E ela disse-me: isso não tem sentido nenhum. E eu dei-lhe razão, mas não sabia porquê. Ou seja, pela melhor razão que podia ter.

As Ideias dependem das Sensações

À primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que o pensamento humano, que não apenas escapa a toda autoridade e a todo poder do homem, mas também nem sempre é reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade. Formar monstros e juntar for­mas e aparências incongruentes não causam à imaginação mais em­baraço do que conceber os objectos mais naturais e mais familiares. Apesar de o corpo confinar-se num só planeta, sobre o qual se arrasta com sofrimento e dificuldade, o pensamento pode transportar-nos num instante às regiões mais distantes do Universo, ou mesmo, além do Universo, para o caos indeterminado, onde se supõe que a Natureza se encontra em total confusão. Pode-se conceber o que ainda não foi visto ou ouvido, porque não há nada que esteja fora do poder do pensamento, excepto o que implica absoluta contradição.

Entretanto, embora o nosso pensamento pareça possuir esta liber­dade ilimitada (…) ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e todo o poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas idéias compatíveis,

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