As Novas Verdades

Nenhuma verdade nova, e completamente estranha Ă s opiniĂ”es correntes, quando demonstrada pelo primeiro que dela se apercebeu, ainda que com uma evidĂȘncia e uma exactidĂŁo idĂȘnticas ou semelhantes Ă s da geometria, conseguiu nunca, se as demonstraçÔes nĂŁo foram de natureza material, introduzir-se e fixar-se no mundo imediatamente, mas sĂł com o decorrer do tempo, atravĂ©s da prĂĄtica e do exemplo: habituando-se os homens a acreditar nela como em qualquer outra coisa; ou melhor, acreditando geralmente por habituação e nĂŁo pela exactidĂŁo de experiĂȘncias concebidas no seu espĂ­rito.
AtĂ© que por fim essa verdade, começando a ser ensinada Ă s crianças, Ă© comummente aceite, evocado com espanto o seu desconhecimento, e escarnecidas as opiniĂ”es diferentes, tanto dos antepassados como dos contemporĂąneos. E isto com tanto mais dificuldade e demora quanto maiores e mais importantes foram essas novas e incrĂ­veis verdades, e, por conseguinte, subversoras de um maior nĂșmero de opiniĂ”es radicadas nos espĂ­ritos. Nem mesmo os intelectos perspicazes e treinados sentem facilmente toda a eficiĂȘncia das razĂ”es que demonstram essas verdades ianuditas e que excedem em muito os limites dos conhecimentos e dos hĂĄbitos desses intelectos, principalmente quando essas razĂ”es e essas verdades se opĂ”em Ă s crenças neles arreigadas.