Textos sobre ExistĂȘncia de Johann Wolfgang von Goethe

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Textos de existĂȘncia de Johann Wolfgang von Goethe. Leia este e outros textos de Johann Wolfgang von Goethe em Poetris.

Todos Pensam de Forma Diferente, e Muitas Vezes Efémera

Cada indivĂ­duo vĂȘ o mundo – e o que este tem de acabado, de regular, de complexo e de perfeito – como se se tratasse apenas de um elemento da Natureza a partir do qual tivesse que constituir um outro mundo, particular, adaptado Ă s suas necessidades. Os homens mais capazes tomam-no sem hesitaçÔes e procuram na medida do possĂ­vel comportar-se de acordo com ele. HĂĄ outros que nĂŁo se conseguem decidir e que ficam parados a olhar para ele. E hĂĄ ainda os que chegam ao ponto de duvidar da existĂȘncia do mundo.
Se alguĂ©m se sentisse tocado por esta verdade fundamental, nunca mais entraria em disputas e passaria a considerar, quer as representaçÔes que os outros possam fazer das coisas, quer a sua, como meros fenĂłmenos. Porque de facto verificamos quase todos os dias que aquilo que um indivĂ­duo consegue pensar com toda a facilidade pode ser impossĂ­vel de pensar para um outro. E nĂŁo apenas em relação a questĂ”es que tivessem uma qualquer influĂȘncia no bem estar ou no sofrimento das pessoas, mas tambĂ©m a propĂłsito de assuntos que nos sĂŁo totalmente indiferentes.

Conhecimento Maduro

Passa-se com os livros uma coisa semelhante ao que sucede com um novo conhecimento que travamos com alguĂ©m. Num primeiro momento experimentamos um profundo prazer em encontrar coincidĂȘncias gerais de opiniĂŁo ou ao sentirmo-nos tocados num aspecto importante da nossa existĂȘncia. SĂł depois, quando o conhecimento se aprofunda, começam a surgir as diferenças. Nessa altura, o comportamento inteligente caracteriza-se pela capacidade de nĂŁo retroceder imediatamente, como muitas vezes acontece na juventude, e de pelo contrĂĄrio reter o que hĂĄ de coincidente enquanto se vĂŁo esclarecendo mutuamente todas as diferenças, sem se pretender chegar a acordo absoluto.

O EquilĂ­brio Humano

As nossas opiniĂ”es sĂŁo apenas suplementos da nossa existĂȘncia e na maneira de pensar de uma pessoa pode ver-se o que lhe falta. Os indivĂ­duos mais frĂ­volos sĂŁo os que se tĂȘm a si mesmos em grande consideração, e as pessoas de maior qualidade sĂŁo apreensivas. O homem de vĂ­cios Ă© descarado e o virtuoso Ă© tĂ­mido. Deste modo tudo se equilibra: cada um de nĂłs quer ser completo ou, pelo menos, quer ver-se como tal.

Igualdade nĂŁo Ă© Liberdade

Todos os homens são iguais em sociedade. Nenhuma sociedade se pode fundamentar noutra coisa que não seja a noção de igualdade. Acima de tudo não pode fundamentar-se no conceito de liberdade. A igualdade é qualquer coisa que quero encontrar na sociedade, ao passo que a liberdade, nomeadamente a liberdade moral de me dispor à subordinação, transporto-a comigo.
A sociedade que me acolhe tem portanto que me dizer: «É teu dever ser igual a todos nĂłs». E nĂŁo pode acrescentar mais que isto: «Desejamos que tu, com toda a convicção, de tua livre e racional vontade, renuncies aos teus privilĂ©gios».
O nosso Ășnico passe de mĂĄgica consiste no facto de prescindirmos da nossa existĂȘncia para podermos existir.
A mais elevada finalidade da sociedade Ă© consequĂȘncia das vantagens que assegura a cada um. Cada um sacrifica racionalmente a essa consequĂȘncia uma grande quantidade de coisas. A sociedade, portanto, muito mais. Por causa da dita consequĂȘncia, a vantagem pontual de cada membro da sociedade anda perto de se reduzir a nada.

Amamos os Nossos Defeitos

Consentimos que nos apontem os nossos defeitos, aceitamos as puniçÔes que deles decorrem, sofremos pacientemente por causa desses defeitos. Mas perdemos a paciĂȘncia se nos obrigam a pĂŽ-los de lado. Certos defeitos sĂŁo imprescindĂ­veis Ă  existĂȘncia dos indivĂ­duos. Ser-nos-ia desagradĂĄvel ver amigos de longa data porem de lado alguns dos seus particularismos.

Filosofias de Vida

A cada etapa da vida do homem corresponde uma certa Filosofia. A criança apresenta-se como um realista, jĂĄ que estĂĄ tĂŁo convicta da existĂȘncia da peras e das maçãs como da sua. O adolescente, perturbado por paixĂ”es interiores, tem que dar maior atenção a si mesmo, tem que se experimentar antes de experimentar as coisas, e transforma-se protanto num idealista. O homem adulto, pelo contrĂĄrio, tem todos os motivos para ser um cĂ©ptico, jĂĄ que Ă© sempre Ăștil pĂŽr em dĂșvida os meios que se escolhem para atingir os objectivos. Dito de outro modo, o adulto tem toda a vantagem em manter a flexibilidade do entendimento, antes da acção e no decurso da acção, para nĂŁo ter que se arrepender posteriormente dos erros de escolha. Quanto ao anciĂŁo, converter-se-ĂĄ necessariamente ao misticismo, porque olha Ă  sua volta e as mais das coisas lhe parecem depender apenas do acaso: o irracional triunfa, o racional fracassa, a felicidade e a infelicidade andam a par sem se perceber porquĂȘ. É assim e assim foi sempre, dirĂĄ ele, e esta Ășltima etapa da vida encontra a acalmia na contemplação do que existe, do que existiu e do que virĂĄ a existir.