Textos sobre Inimigos de Pablo Neruda

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Textos de inimigos de Pablo Neruda. Leia este e outros textos de Pablo Neruda em Poetris.

Versos Curtos e Compridos

Como poeta actuante, combati o meu próprio ensimesmamento. Por isso, o debate entre o real e o subjectivo se decidiu dentro do meu próprio ser. Sem pretensões de aconselhar ninguém, os resultados podem auxiliar as minhas experiências Vejamo-los de relance.
É natural que a minha poesia esteja exposta tanto à opinião da crítica elevada como submetida à paixão do libelo. Isto faz parte do jogo. Sobre este aspecto da discussão não tenho voz, mas tenho voto. Para a crítica essencial, o meu voto são os meus livros, a minha poesia inteira. Para o libelo inamistoso, tenho também direito de voto — e este também é constituído pela minha própria e constante criação.
Se soa a vaidade o que digo, pode ser que tenham razão. No meu caso, trata-se da vaidade do artesão que exerceu um oficio por muitos anos com amor indelével.
Mas há uma coisa com que estou satisfeito: de uma maneira ou outra, fiz respeitar, pelo menos na minha pátria, o ofício de poeta, a profissão da poesia.

Na época em que comecei a escrever, o poeta era de dois géneros. Uns, eram poetas grandes senhores que se faziam respeitar pelo seu dinheiro,

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Raízes

Ehrenburg, que lia e traduzia os meus versos, repreendia-me: demasiada raiz, demasiadas raízes, nos teus versos. Porquê tantas? É verdade. As terras fronteiriças do Chile infiltraram as suas raízes na minha poesia e nunca puderam sair dela. A minha vida é uma longa peregrinação que anda sempre às voltas, que retorna sempre ao bosque austral, à selva perdida.
Ali, é certo, as grandes árvores eram por vezes tombadas por setecentos anos de vida poderosa, ou arrancadas pelo furacão, ou queimadas pela neve, ou destruídas pelo incêndio. Senti muitas vezes cair na profundidade da floresta as árvores titânicas: o roble que tomba com estrondo de catástrofe surda, como se batesse com mão colossal às portas da terra pedindo sepultura. As raízes, porém, ficavam a descoberto, entregues ao tempo inimigo, à humidade, aos líquenes, ao aniquilamento progressivo.
Nada mais belo que aquelas grandes mãos abertas, feridas e queimadas, que numa vereda do bosque nos indicam o segredo da árvore enterrada, o enigma que a folhagem mantinha, os músculos profundos do domínio vegetal. Trágicas e hirsutas, mostram-nos uma nova beleza: são esculturas da profundidade — obras-primas secretas da natureza.

Certa vez, caminhando com Rafael Alberti entre cascatas, matagais e bosques,

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Um Homem Simples

Eu tenho sido um homem demasiado simples — é esta a minha honra e a minha vergonha. Acompanhei a farândola dos meus companheiros e invejei-lhes a brilhante plumagem, as satânicas atitudes, os aviões de papel e até as vacas, que talvez tenham algo que ver, de forma misteriosa, com a literatura. De qualquer maneira, parece-me que não nasci para condenar, mas para amar. Até mesmo os divisionistas que me atacam, os que se reúnem aos montes para me arrancar os olhos e que antes se nutriram com a minha poesia, merecem pelo menos o meu silêncio. Nunca tive medo de contágio penetrando na multidão dos meus próprios inimigos, porque os únicos que tenho são os inimigos do povo.