A Força da Ignorância
Por que causa a ignorância nos mantĂ©m agarrados com tanta força? Primeiro, porque nĂŁo a repelimos com suficiente energia nem usamos todas as nossas forças para nos libertarmos dela; depois, porque nĂŁo confiamos o bastante nas lições dos sábios nem as interiorizamos como devĂamos, antes tratamos uma tĂŁo magna questĂŁo de forma leviana. Como pode alguĂ©m, aliás, aprender suficientemente a lutar contra os vĂcios se apenas dedica a esse estudo o tempo que os vĂcios lhe deixam livre?…
Nenhum de nĂłs aprofunda bastante esta matĂ©ria; abordamos o assunto pela rama e, como gente extremamente ocupada, achamos que dedicar umas horas Ă filosofia Ă© mais do que suficiente. E o que mais nos prejudica Ă© a facilidade com que o nosso amor prĂłprio se satisfaz. Se encontramos alguĂ©m que nos ache homens de bem, homens esclarecidos e irrepreensĂveis, logo nos mostramos de acordo! Nem sequer nos contentamos com louvores comedidos: tudo quanto a adulação despudoradamente nos atribui, nĂłs o assumimos como de pleno direito. Se alguĂ©m nos declara os melhores e mais sábios do mundo, nĂłs assentimos, mesmo quando sabemos que esse alguĂ©m Ă© useiro e vezeiro na mentira! A nossa autocomplacĂŞncia vai mesmo tĂŁo longe que pretendemos ser louvados em nome de princĂpios que as nossas acções frontalmente desmentem (…) A consequĂŞncia Ă© que ninguĂ©m mostra vontade de corrigir o seu carácter,
Textos sobre Louvor de Séneca
2 resultadosToda a Virtude Assenta na Justa Medida
Toda a virtude assenta na justa medida, e a justa medida baseia-se em proporções determinadas. A firmeza nĂŁo pode sequer tentar elevar-se, e o mesmo se dirá da confiança, da verdade, da lealdade. Pode acrescentar-se alguma coisa Ă quilo que Ă© perfeito? Nada, de outro modo nĂŁo seria perfeito, pois algo se lhe acrescentou. Nada, por conseguinte, se pode adicionar Ă virtude, pois se tal fosse possĂvel era porque algo lhe faltava. TambĂ©m a honestidade nĂŁo Ă© passĂvel de qualquer acrĂ©scimo, pois o que Ă© a honestidade decorre do raciocĂnio acima exposto. E quanto ao mais, o respeito pelas normas sociais, a justiça, a legalidade, nĂŁo achas que sĂŁo conceitos do mesmo tipo, definidos por critĂ©rios igualmente rigorosos? Para uma coisa ser susceptĂvel de acrĂ©scimo essa coisa tem de ser imperfeita. Todo o bem obedece a esta mesma lei: o interesse privado e o interesse pĂşblico sĂŁo tĂŁo dissociáveis como, que sei eu?, aquilo que merece o louvor se nĂŁo distingue do que merece o nosso esforço. Por conseguinte, todas as virtudes sĂŁo tĂŁo iguais entre si como todas as realizações da virtude e todos os homens dotados dessas virtudes.