Textos sobre Natureza de Francis Bacon

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Textos de natureza de Francis Bacon. Leia este e outros textos de Francis Bacon em Poetris.

A Natureza do Homem

A natureza está muitas vezes escondida, algumas vezes vencida, raramente extinta. A força torna a natureza mais violenta na reacção; a doutrina e o discurso fazem a natureza menos exigente; mas só o hábito altera e subjuga a natureza. Aquele que deseja vencer a sua natureza, não tente dar a si próprio tarefas muito grandes ou muito pequenas; porque as primeiras podem desanimá-lo com frequentes frustrações, e as segundas dar-lhe-ão insignificantes progressos, apesar de serem bem sucedidas. No princípio, irá praticando com auxiliares, como os nadadores se socorrem de bóias e coletes; mas, ao fim de algum tempo, deverá realizar o treino entre dificuldades, como os dançarinos fazem com os socos. Isto porque resulta sempre maior perfeição quando o exercício é mais árduo do que a prática.
(…) Não é má a antiga regra que mandava curvar a natureza até ao extremo oposto, para que ela se rectificasse; subentendendo-se, porém, que o extremo oposto não seja o vício. O homem não se deve forçar a um hábito com contínua persistência, mas com alguma interrupção; porque a pausa reforça a nova investida; e se o homem que não é perfeito estiver sempre a exercitar-se, será tão perito nos seus erros como nas suas virtudes,

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Superficialidade Popular

Como se a multidão ou os mais sábios em nome da multidão não estivessem prontos a dar passagem muito mais àquilo que é popular e superficial do que ao que é substancial e profundo; pois a verdade é que o tempo parece ter a natureza de um rio ou correnteza, que carrega até nós tudo o que é leve e inflado, mas afunda e afoga tudo aquilo que tem peso e solidez.

Regras Essenciais para os Negócios

Mais vale em geral negociar oralmente do que por cartas, e por mediação, de terceiro do que pessoalmente. As cartas são melhores quando se deseja provocar resposta escrita, ou quando podem servir para justificação de um procedimento a tomar depois de escrita a carta. Tratar o assunto pessoalmente é bom, quando a presença impõe respeito, como acontece geralmente perante inferiores. Na escolha dos intermediários, é melhor optar por pessoas francas, que farão aquilo de que foram encarregadas, e que transmitirão fielmente o resultado, do que escolher pessoas hábeis em tirar proveito dos negócios alheios, e que podem alterar a verdade dos factos, apenas para vos dar satisfação. É melhor sondar a pessoa com a qual se trata um negócio, antes de entrar abruptamente no assunto, excepto quando se pretende surpreendê-la com alguma questão especiosa.
É melhor tratar com pessoas que ainda têm apetite do que com aquelas que já o perderam. Se se trata com alguém sob condições, o essencial, é o primeiro acto, porque tudo não se pode razoavelmente pedir, excepto se a natureza da coisa for tal que se possa levar avante; ou tal que uma parte possa persuadir a outra que precisará dela em futuro negócio;

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Dos Estudos

Os estudos servem para deleite, ornamento e proficiência. Para deleite, são principalmente usados na vida íntima e retirada; para ornamento, nos dicursos; e para proficiência, no exame e resolução de negócios. Os homens experientes estão capacitados a decidir, ou opinar sobre casos isolados; mas os conselhos genéricos, o planeamento e condução de negócios, cabem antes aos proficientes. Gastar tempo demasiado em estudos é indolência; abusar deles como ornamento é afectação; julgar apenas de acordo com os seus preceitos é coisa de escolástico.
Os estudos aperfeiçoam a natureza e são aperfeiçoados pela experiência, porquanto os dotes naturais são como as plantas: devem ser cultivados mediante o estudo. Outrossim, quando não estão vinculados à experiência, os estudos fornecem directivas a esmo. Os homens hábeis desprezam os estudos, os simples admiram-nos, e os sábios utilizam-nos. Os estudos não ensinam o seu próprio uso; esta é uma sabedoria independente e superior a eles, que vem da observação.

Considerações sobre a Vingança

A vingança é uma espécie de justiça bárbara, de tal maneira que quanto mais a natureza humana se inclinar para ela, tanto mais a deve a lei exterminá-la. Porque a primeira injúria não faz mais que ofender a lei, ao passo que a vingança da injúria põe a lei fora do seu ofício. De certo, ao exercer a vingança, o homem iguala-se ao inimigo; mas, passando sobre ela, é-lhe superior; porque é próprio do príncipe perdoar. E tenho a certeza que Salomão disse: «É glorioso para um homem desdenhar uma ofensa». O que passou, passou, e é irrevogável; os homens prudentes já têm bastante que fazer com as coisas presentes e vindouras; não devem, portanto, preocupar-se com bagatelas como o trabalhar em coisas pretéritas.
Não há homem que faça o mal pelo mal, mas apenas na perseguição do lucro, do prazer ou da honra, etc. Porque hei-de ficar ressentido com alguém, apenas pela razão de que ele mais ama a si próprio do que a mim? E se alguém me fez mal, apenas por pura maldade, então, esse é unicamente como a roseira e o cardo que picam e arranham apenas porque não podem de outra forma proceder. A espécie mais tolerável de vingança ainda é aquela que vai contra ofensas que na lei não encontram remédio;

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Vaidade e Vanglória

Era uma linda invenção de Esopo a do moscardo que, sentado no eixo da roda, dizia: «Quanta poeira faço levantar!» Assim há muitas pessoas vãs que quando um negócio marcha por si ou vai sendo movido por agentes mais importantes, desde que estejam relacionados com ele por um só pormenor, imaginam que são eles quem conduz tudo: os que têm que ser facciosos, porque toda a vaidade assenta em comparações. Têm de ser necessariamente violentos, para fazerem valer as suas jactâncias. Não podem guardar segredo, e por isso não são úteis para ninguém, mas confirmam o provérbio francês: Beaucoup de bruit, peu de fruit.
Este defeito não é, porém, sem utilidade para os negócios políticos: onde houver uma opinião ou uma fama a propagar, seja de virtude seja de grandeza, esses homens são óptimos trombeteiros.
(…) A vaidade ajuda a perpetuar a memória dos homens, e a virtude nunca foi considerada pela natureza humana como digna de receber mais do que um prémio de segunda mão. A glõria de Cícero, de Séneca, de Plínio o Moço, não teria durado tanto tempo se eles não fossem de algum modo vaidosos; a vaidade é como o verniz, que não só faz brilhar,

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Vantagens e Desvantagens dos Hábitos

Os pensamentos dos homens são muito concordantes com as suas inclinações; as suas palavras e os seus discursos concordam com as suas opiniões infusas ou apreendidas; mas as suas acções resultam daquilo a que estão acostumados. Eis porque, como Maquiavel muito bem notou (ainda que num exemplo mal inspirado), ninguém deve confiar na força da natureza, nem na jactância das palavras, se não estiverem corroboradas pelo hábito. O exemplo que ele apresenta é que, na execução de uma conspiração ousada, ninguém se deve fiar na ferocidade aparente ou nas promessas resolutas de qualquer pessoa, e que o empreendimento deve ser confiado a quem tiver já alguma vez manchado as suas mãos com sangue.
(…) A predominância do costume é por toda a parte visível; de tal maneira que ficaríamos admirados de ouvir os homens declarar, protestar, prometer, fazer solenes juramentos, e depois vê-los proceder como tinham feito antes: como se fossem imagens mortas ou engenhos movidos apenas pelas rodas do costume. Vemos também o que é o reino ou a tirania do costume.
(…) Já que o costume é o principal magistrado da vida humana, deve o homem por todos os meios prover à obtenção de bons costumes.

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Intelecto Sentimental

O intelecto humano não é luz pura, pois recebe influência da vontade e dos afectos, donde se poder gerar a ciência que se quer. Pois o homem inclina-se a ter por verdade o que prefere. Em vista disso, rejeita as dificuldades, levado pela impaciência da investigação; a sobriedade, porque sofreia a esperança; os princípios supremos da natureza, em favor da superstição; a luz da experiência, em favor da arrogância e do orgulho, evitando parecer se ocupar de coisas vis e efémeras; paradoxos, por respeito à opinião do vulgo. Enfim, inúmeras são as fórmulas pelas quais o sentimento, quase sempre imperceptivelmente, se insinua e afecta o intelecto.

O que Leva o Homem a Suspeitar Muito é o Saber Pouco

As suspeitas são entre os pensamentos o que os morcegos são entre os pássaros; voam sempre ao crepúsculo. Certamente, devem ser reprimidos, ou pelo menos bem vigiados, porque ofuscam o espírito. As suspeitas afastam-nos dos amigos e vão de encontro aos nossos negócios, que afastam do caminho normal e direito. As suspeitas impelem os reis à tirania, os maridos ao ciúme, os sábios à irresolução e à melancolia. São fraquezas não do coração, mas do cérebro, porque se alojam nos carácteres mais intrépidos, como no exemplo de Henrique VII de Inglaterra, que, entre os homens, foi também o mais suspeitoso e também o mais intrépido. As suspeitas fazem muito mal a estes homens. Nas outras pessoas, as suspeitas só são admitidas depois de exame à sua verosimilhança, mas nas pessoas timoratas elas rapidamente adquirem fundamento. O que leva o homem a suspeitar muito é o saber pouco; por isso os homens deveriam dar remédio às suspeitas procurando saber mais, em vez de se deixarem sufocar por elas.
Que querem eles? Pensarão talvez que são santas as pessoas que empregam e com quem tratam? Que elas não pensam em atingir os seus fins, e que serão mais leais para com os outros do que para consigo próprias?

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