Citação de

Vaidade e Vanglória

Era uma linda invenção de Esopo a do moscardo que, sentado no eixo da roda, dizia: «Quanta poeira faço levantar!» Assim há muitas pessoas vãs que quando um negócio marcha por si ou vai sendo movido por agentes mais importantes, desde que estejam relacionados com ele por um só pormenor, imaginam que são eles quem conduz tudo: os que têm que ser facciosos, porque toda a vaidade assenta em comparações. Têm de ser necessariamente violentos, para fazerem valer as suas jactâncias. Não podem guardar segredo, e por isso não são úteis para ninguém, mas confirmam o provérbio francês: Beaucoup de bruit, peu de fruit.
Este defeito não é, porém, sem utilidade para os negócios políticos: onde houver uma opinião ou uma fama a propagar, seja de virtude seja de grandeza, esses homens são óptimos trombeteiros.
(…) A vaidade ajuda a perpetuar a memória dos homens, e a virtude nunca foi considerada pela natureza humana como digna de receber mais do que um prémio de segunda mão. A glõria de Cícero, de Séneca, de Plínio o Moço, não teria durado tanto tempo se eles não fossem de algum modo vaidosos; a vaidade é como o verniz, que não só faz brilhar, mas também durar, as madeiras.

(…) As desculpas, as reservas, a própria modéstia, bem reguladas, não são senão artes de ostentação; e entre estas artes não há melhor do que aquela de que Plínio falou, e que consiste em ser liberal de louvores e de elogios para com os outros, sobre os pontos em que cada qual possui alguma perfeição. Plínio disse-o muito lindamente: «Ao louvardes outrem, prestareis justiça a vós próprios; porque aquele que louvais ou é superior ou é inferior a vós, quanto ao objecto do elogio; se ele é inferior, mas digno de ser louvado, vós mais dignos sois, se ele é superior, e indigno de ser louvado, menos indignos sois vós». Os vaidosos são o escárnio dos homens sábios, a admiração dos tolos, os ídolos dos parentes, os escravos das suas próprias jactâncias.