Textos sobre Ninguém de Friedrich Nietzsche

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Textos de ninguém de Friedrich Nietzsche. Leia este e outros textos de Friedrich Nietzsche em Poetris.

Todos os Fins SĂŁo Neutralizados

Todos os fins sĂŁo neutralizados, e os juĂ­zos de valor viram-se uns contra os outros:
Dizemos bom aquele que só escuta o seu coração, mas também aquele que só escuta o seu dever;
Dizemos que é bom o indulgente, o pacífico, mas também dizemos que é bom o valente, o inflexível, o rígido;
Dizemos bom aquele que nĂŁo pratica a violĂȘncia contra si prĂłprio, mas tambĂ©m dizemos bom o herĂłi, que triunfa de si mesmo;
Dizemos bom o amigo da verdade absoluta, mas também dizemos bom o homem piedoso, que tudo transfigura;
Dizemos bom aquele que é altaneiro, mas também dizemos bom o homem piedoso;
Dizemos bom o homem distinto, o aristocrata, mas também dizemos bom aquele que não é, nem desdenhoso, nem arrogante;
Dizemos bom o homem cordato, que evita conflitos, mas também dizemos bom o que deseja a luta e a vitória;
Dizemos bom aquele que quer ser sempre o primeiro, mas também dizemos bom aquele que não deseja sobrepor-se a ninguém.

Toda a Comunidade nos Torna Vulgares

Viver com uma imensa e orgulhosa calma; sempre para alĂ©m. – Ter e nĂŁo ter, arbitrariamente, os seus afectos, o seu prĂł e contra, condescender com eles por umas horas; montar sobre eles como em cavalos, frequentemente como em burros; – Ă© que se deve saber aproveitar a sua estupidez tal como a sua fogosidade. Conservar os seus trezentos primeiros planos; tambĂ©m os Ăłculos escuros; pois hĂĄ casos em que ninguĂ©m nos deve olhar nos olhos e muito menos ainda nas nossas «razĂ”es». E escolher, para companhia, aquele vĂ­cio matreiro e sereno, a cortesia. E ficar senhor das suas quatro virtudes, a coragem, a perspicĂĄcia, a simpatia, a solidĂŁo. Pois a solidĂŁo Ă© entre nĂłs uma virtude, como tendĂȘncia e impulso sublimes do asseio que adivinha como, no contacto de homem para homem – «em sociedade» – tudo Ă©, inevitavelmente, sujo, Toda a comunidade nos torna de qualquer modo, em qualquer parte, em qualquer altura – «vulgares».

Aonde Pode Levar a Sinceridade

AlguĂ©m tinha o mau hĂĄbito de se exprimir, de quando em quando, com toda a franqueza acerca dos motivos pelos quais agia, e que eram tĂŁo bons ou tĂŁo maus como os motivos de todas as pessoas. Primeiro, causou escĂąndalo, depois suspeita, pouco a pouco foi terminantemente proscrito e banido da sociedade, atĂ© que, por fim, a justiça se recordou de um ser tĂŁo abjecto em ocasiĂ”es, em que ela nĂŁo costumava ter olhos ou os fechava. A falta de mutismo quanto ao segredo geral e a irresponsĂĄvel propensĂŁo para ver o que ninguĂ©m quer ver – a si prĂłprio – levaram-no Ă  prisĂŁo e a uma morte prematura.

A Felicidade e a Virtude NĂŁo SĂŁo Argumentos

NinguĂ©m tomarĂĄ facilmente por verdadeira uma doutrina somente porque ela torna felizes ou virtuosos os homens: exceptuando, talvez, os amĂĄveis «idealistas» que se entusiasmam pelo Bom, o Verdadeiro, o Belo e fazem nadar, no seu charco, toda a espĂ©cie de variegadas, pesadonas e bonacheironas idealidades. A felicidade e a virtude nĂŁo sĂŁo argumentos. Mas de bom grado se esquece, mesmo os espĂ­ritos ponderados, que tornar infeliz e tornar mau nĂŁo sĂŁo tĂŁo-pouco contra-argumentos. Uma coisa deveria ser certa, embora fosse muitĂ­ssimo prejudicial e perigosa; seria atĂ© possĂ­vel fazer parte da estrutura bĂĄsica da existĂȘncia o perecermos por causa do nosso conhecimento total, – de forma que a força de um espĂ­rito se mediria justamente pela quantidade de «verdade» que era capaz de suportar ou, mais claramente, pelo grau em que necessitasse de a diluir, velar, adocicar, embotar, falsificar. Mas estĂĄ fora de dĂșvida o facto de os maus e infelizes serem mais favorecidos e terem maior possibilidade de ĂȘxito na descoberta certas partes da verdade; para nĂŁo falar dos maus que sĂŁo felizes, – espĂ©cie que os moralistas passam em silĂȘncio.

É possĂ­vel que a dureza e a astĂșcia forneçam, para o desenvolvimento do espĂ­rito e do filĂłsofo firmes e independentes,

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O Preço da IndependĂȘncia

Ser independente Ă© uma questĂŁo que diz respeito a uma muito restrita minoria: – Ă© um privilĂ©gio dos fortes. Quem a tanto se abalançar, mas sem ter necessidade, ainda que tenha todo o direito a isso, prova desse modo que provavelmente nĂŁo sĂł Ă© forte, mas tambĂ©m audacioso atĂ© Ă  temeridade. Mete-se num labirinto, multiplica ao infinito os perigos inerentes Ă  prĂłpria vida; e o menor desses perigos nĂŁo estĂĄ em que ninguĂ©m veja como e onde se perde, despedaçado na solidĂŁo por qualquer subterrĂŁneo Minotauro da consciĂȘncia.