A Imagem Ă© Sempre Fruto da Vaidade
O aplauso Ă© o Ădolo da vaidade, por isso as acçÔes herĂłicas nĂŁo se fazem em segredo, e por meio delas procuramos que os homens formem de nĂłs o mesmo conceito, que nĂłs temos de nĂłs mesmos. Raras vezes somos generosos, sĂł pela generosidade, nem valerosos sĂł pelo valor. A vaidade nos propĂ”e, que o mundo todo se aplica em registar os nossos passos; para este mundo Ă© que obramos; por isso hĂĄ muita diferença de um homem, a ele mesmo: posto no retiro Ă© um homem comum, e muitas vezes ainda com menos talento que o comum dos homens; porĂ©m posto em parte donde o vejam, todo Ă© acção, movimento, esforço.
Nunca mostramos o que somos, senĂŁo quando entendemos que ninguĂ©m nos vĂȘ, e isto porque nĂŁo exercitamos as virtudes pela excelĂȘncia delas, mas pela honra do exercĂcio, nem deixamos de ser maus por aversĂŁo ao mal, mas pelo que se segue de o ser. O vĂcio pratica-se ocultamente, porque cremos que a ignomĂnia sĂł consiste em se saber; de sorte que se somos bons, Ă© por causa dos mais homens, e nĂŁo por nossa causa; haja quem nos assegure, que nĂŁo hĂĄ-de saber-se um desacerto, e logo nos tem certo,
Textos sobre Ninguém de Matias Aires
2 resultadosA Vaidade Cega a Sabedoria
Os sĂĄbios da terra nĂŁo sĂŁo os mais prĂłprios para o governo dela. As RepĂșblicas, que se fundaram, ou se quiseram governar por sĂĄbios, perderam-se, acabaram-se; temos notĂcia delas pelo que foram, e nĂŁo pelo que sĂŁo. (…) As maiores crueldades, ou foram feitas, ou aconselhadas pelos SĂĄbios; estes quando persuadem o mal, Ă© com tanta veemĂȘncia, e tĂŁo eficazmente, que as gentes na boa fĂ©, buscam, e particam esse mal, como por entusiasmo, e sem advertirem nele. A impiedade, Ă© uma das coisas que a ciĂȘncia ensina; nĂŁo porque seja o seu objecto, ou instituto, mas porque quando a impiedade Ă© Ăștil, Ă força de a ornar, se lhe tira o horror. A vaidade das ciĂȘncias nĂŁo consente, que haja cousa de que ela nĂŁo possa, nem se saiba aproveitar.
Os erros comummente sĂŁo partos da sabedoria humana; o errar propriamente Ă© dos sĂĄbios, porque o erro supĂ”e conselho, e premeditação; os ignorantes quĂĄsi que obram por instinto; a ciĂȘncia sabe legitimar o erro, a ignorĂąncia nĂŁo; por isso nesta nĂŁo hĂĄ perigo de que ninguĂ©m o aprove; ao passo que naquela hĂĄ o perigo de que a multidĂŁo o siga. O erro na mĂŁo de um sĂĄbio Ă© como uma lança penetrante,