Textos sobre Prazer de Voltaire

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Textos de prazer de Voltaire. Leia este e outros textos de Voltaire em Poetris.

Os Grandes Homens

Daqueles que comandaram batalhĂ”es e esquadrĂ”es sĂł resta o nome. O gĂ©nero humano nada tem para mostrar duma centena de batalhas travadas. Mas os grandes homens de que vos falo prepararam puros e perenes prazeres para os homens que ainda hĂŁo-de nascer. Uma eclusa a ligar dois mares, um quadro de Poussin, uma bela tragĂ©dia, uma nova verdade – sĂŁo coisas mil vezes mais preciosas do que todos os anais da corte ou todos os relatos de campanhas militares. Sabeis que, comigo, os grandes homens sĂŁo os primeiros e os herĂłis os Ășltimos.
Chamo «grandes homens» a todos aqueles que se distinguiram na criação daquilo que Ă© Ăștil ou agradĂĄvel. Os saqueadores de provĂ­ncias sĂŁo meros herĂłis.

Amor Comparado

Queres ter uma ideia do amor, vĂȘ os pardais do teu jardim; vĂȘ os teus pombos; contempla o touro que se leva Ă  tua vitela; olha esse orgulhoso cavalo que dois valetes teus conduzem Ă  Ă©gua em paz que o espera, e que desvia a cauda para recebĂȘ-lo; vĂȘ como os seus olhos cintilam; ouve os seus relinchos; contempla os seus saltos, camabalhotas, orelhas eriçadas, boca que se abre com pequenas convulsĂ”es, narinas que se inflam, sopro inflamado que delas sai, crinas que se revolvem e flutuam, movimento imperioso com o qual o cavalo se lança para o objecto que a natureza lhe destinou; mas nĂŁo tenhas inveja, e pensa nas vantagens da espĂ©cie humana: elas compensam com amor todas as que a natureza deu aos animais, força, beleza, ligeireza, rapidez. HĂĄ atĂ© mesmo animais que nĂŁo sabem o que Ă© o gozo. Os peixes escamados sĂŁo privados dessa doçura: a fĂȘmea lança no lodo milhĂ”es de ovos; o macho que os encontra passa sobre eles e fecunda-os com a sua semente, sem saber a que fĂȘmea eles pertencem. A maior parte dos animais que copulam sĂł tĂȘm prazer por um sentido; e, assim que esse apetite Ă© satisfeito, tudo se extingue.

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Causas e Curas para o Fanatismo

O fanatismo Ă© para a superstição o que o delĂ­rio Ă© para a febre, o que Ă© a raiva para a cĂłlera. Aquele que tem ĂȘxtases, visĂ”es, que considera os sonhos como realidades e as imaginaçÔes como profecias Ă© um entusiasta; aquele que alimenta a sua loucura com a morte Ă© um fanĂĄtico. (…) O mais detestĂĄvel exemplo de fanatismo Ă© aquele dos burgueses de Paris que correram a assassinar, degolar, atirar pelas janelas, despedaçar, na noite de SĂŁo Bartolomeu, os seus concidadĂŁos que nĂŁo iam Ă  missa. HĂĄ fanĂĄticos de sangue frio: sĂŁo os juizes que condenam Ă  morte aqueles cujo Ășnico crime Ă© nĂŁo pensar como eles. Quando uma vez o fanatismo gangrenou um cĂ©rebro a doença Ă© quase incurĂĄvel. Eu vi convulsionĂĄrios que, falando dos milagres de S. PĂĄris, sem querer se acaloravam cada vez mais; os seus olhos encarniçavam-se, os seus membros tremiam, o furor desfigurava os seus rostos e teriam morto quem quer que os houvesse contrariado.
Não hå outro remédio contra essa doença epidémica senão o espírito filosófico que, progressivamente difundido, adoça enfim a índole dos homens, prevenindo os acessos do mal porque, desde que o mal fez alguns progressos, é preciso fugir e esperar que o ar seja purificado.

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O Bem Supremo

Muito discutiu a antiguidade em torno do supremo bem. O que Ă© o supremo bem? Seria o mesmo que perguntar o que Ă© o supremo azul, o supremo acepipe, o supremo andar, o ler supremo, etc. Cada um pĂ”e a felicidade onde pode, e quanto pode ao seu gosto. (…) Sumo bem Ă© o bem que vos deleita a ponto de nos polarizar toda a sensibilidade, assim como mal supremo Ă© aquele que vos torna completamente insensĂ­vel. Eis os dois pĂłlos da natureza humana. Esses dois momentos sĂŁo curtos. NĂŁo existem deleites extremos nem extremos tormentos capazes de durar a vida inteira. Supremo bem e supremo mal sĂŁo quimeras.Conhecemos a bela fĂĄbula de CrĂąntor, que fez comparecer aos jogos olĂ­mpicos a Fortuna, a VolĂșpia, a SaĂșde e a Virtude.
Fortuna: – O sumo bem sou eu, pois comigo tudo se obtĂ©m.
VolĂșpia: – Meu Ă© o pomo, porquanto nĂŁo se aspira Ă  riqueza senĂŁo para ter-me a mim.
SaĂșde: – Sem mim nĂŁo hĂĄ volĂșpia e a riqueza seria inĂștil.
Virtude: – Acima da riqueza, da volĂșpia e da saĂșde estou eu, que embora com ouro, prazeres e saĂșde pode haver infelicidade, se nĂŁo hĂĄ virtude.

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A DependĂȘncia Ă© a Raiz de Todos os Males

O que deve um cĂŁo a um cĂŁo, um cavalo a um cavalo? Nada. Nenhum animal depende do seu semelhante. Tendo porĂ©m o homem recebido o raio da Divindade a que se chama razĂŁo, qual foi o resultado? Ser escravo em quase toda a terra. Se o mundo fosse o que parece dever ser, isto Ă©, se em toda parte os homens encontrassem subsistĂȘncia fĂĄcil e certa e clima apropriado Ă  sua natureza, impossĂ­vel teria sido a um homem servir-se de outro. Cobrisse-se o mundo de frutos salutares. NĂŁo fosse veĂ­culo de doenças e morte o ar que contribui para a existĂȘncia humana. Prescindisse o homem de outra morada e de outro leito alĂ©m do dos gansos e cabras monteses, nĂŁo teriam os Gengis CĂŁs e TamerlĂ”es vassalos senĂŁo os prĂłprios filhos, os quais seriam bastante virtuosos para auxiliĂĄ-los na velhice.
No estado natural de que gozam os quadrĂșpedes, aves e rĂ©pteis, tĂŁo feliz como eles seria o homem, e a dominação, quimera, absurdo em que ninguĂ©m pensaria: para quĂȘ servidores se nĂŁo tivĂ©sseis necessidade de nenhum serviço? Ainda que passasse pelo espĂ­rito de algum indivĂ­duo de bofes tirĂąnicos e braços impacientes por submeter o seu vizinho menos forte que ele,

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