Não se Consegue ser Exterior à Nossa Própria Indiferença

A dificuldade da existĂȘncia estava precisamente neste problema concreto: por diversas vezes Walser se vira, ao longe, alegre, e tambĂ©m de longe observara a sua prĂłpria tristeza ou irritação. Nada de mais. Mas o que nunca conseguira era ser exterior Ă  indiferença; ser exterior a si nos momentos, inĂșmeros, em que se encontrava neutro face Ă s coisas, inerte e em estado de espera perante a possibilidade de um acto ou do seu contrĂĄrio. Quanto mais intensidade existia no corpo, mais fĂĄcil era afastar-se, ser testemunha de si prĂłprio. As dificuldades de observação privilegiada, de uma existĂȘncia que lhe pertencia, surgiam assim, de um modo extremo, quando a intensidade dos sentimentos era quase nula. Se ele jĂĄ lĂĄ nĂŁo estava – na existĂȘncia – como se poderia ainda afastar mais?

Mas o que era concretamente este lĂĄ, este outro sĂ­tio que por vezes parecia ser o seu centro outras vezes o seu oposto? Sobre a localização geral desse lĂĄ, Walser nĂŁo tinha dĂșvidas: era o cĂ©rebro. Era ali que tudo se passava ou que tudo o que se passava era observado. Ali fazia, e ali via-se a fazer. Como qualquer louco normal, pensou Walser, e sorriu da fĂłrmula.

Gonçalo M.

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