Todos Somos Escravos
NĂŁo há razĂŁo, caro LucĂlio, para sĂł buscares amigos no foro ou no senado: se olhares com atenção encontrá-los-ás em tua casa. Muitas vezes um bom material permanece inutilizado por falta de quem o trabalhe. Tenta, pois, e vĂŞ o resultado. Tal como Ă© estupidez comprar um cavalo inspeccionando, nĂŁo o animal, mas sim a sela e o freio, assim Ă© o cĂşmulo da estupidez julgar um homem pela roupa ou pela condição social, que, de resto, Ă© tĂŁo exterior a nĂłs como a roupa. «É um escravo». Mas pode ter alma de homem livre. «É um escravo». Mas em que Ă© que isso o diminui? Aponta-me alguĂ©m que o nĂŁo seja: este Ă© escravo da sensualidade, aquele da avareza, aquele outro da ambição, todos sĂŁo escravos da esperança, todos o sĂŁo do medo.
Posso mostrar-te um antigo cĂ´nsul sujeito ao mando de uma velhota, um ricalhaço submetido a uma criadita, posso apontar-te jovens filhos de nobilĂssimas famĂlias que se fazem escravos de bailarinos: nenhuma servidĂŁo Ă© mais degradante do que a voluntariamente assumida. AĂ tens a razĂŁo por que nĂŁo deves deixar que os nossos tolos te impeçam de seres agradável para com os teus escravos, em vez de os tratares com altiva superioridade.
Textos sobre Sensualidade de Séneca
2 resultadosA Importância dos PrincĂpios
Entre os homens, alguns há que possuem naturalmente um excelente carácter e que assimilam sem necessidade de longa instrução os princĂpios tradicionais, que abraçam a via da moralidade desde o primeiro momento em que dela ouvem falar; do meio destes Ă© que surgem aqueles gĂ©nios que concitam em si toda a gama de virtudes, que produzem eles mesmos virtudes. Mas aos outros, Ă queles que tĂŞm o espĂrito embotado, obtuso ou dominado por tradições errĂłneas, a esses há que raspar a ferrugem que tĂŞm na alma. Mais ainda: se transmitirmos os preceitos básicos da filosofia aos primeiros, rapidamente eles atingirĂŁo o mais alto nĂvel, pois estĂŁo naturalmente inclinados ao bem; se o fizermos aos outros, os de natureza mais fraca, ajudá-los-emos a libertarem-se das suas convicções erradas. Por aqui podes ver como sĂŁo necessários os princĂpios básicos. Temos instintos em nĂłs que nos fazem indolentes ante certas coisas, e atrevidos perante outras; ora, nem este atrevimento nem aquela indolĂŞncia podem ser eliminados se primeiro nĂŁo removermos as respectivas causas, ou seja, a admiração infundada ou o receio infundado.
Enquanto tivermos em nĂłs esses instintos, bem poderás dizer: “estes sĂŁo os teus deveres para com teu pai, ou para com os filhos,