Se se tem caráter, tem-se também uma experiência típica própria, que sempre retorna.
Passagens sobre Carácter
384 resultadosMoral e Guerra
As leis da moral são uma invenção da humanidade para privar dos seus direitos os mais poderosos em favor dos fracos. As leis da história subvertem as leis da moral a cada passo. A validade de uma perspectiva moral nunca pode ser confirmada ou infirmada por um qualquer exame definitivo. Quando um homem cai morto num duelo, isso não demonstra que as suas ideias eram erradas. O facto de ele se ter envolvido numa tal prova apenas atesta uma nova e mais vasta perspectiva. A vontade dos duelistas de renunciar a quaisquer novas discussões, reconhecendo o carácter trivial de todo e qualquer debate, e de apelar directamente às instãncias do absoluto histórico indica claramente a pouca importância de que se revestem as opiniões e a grande importância das divergências em torno dessas mesmas opiniões. Pois a discussão é efectivamente trivial, mas o mesmo não se pode dizer das vontades opostas que a discussão pôs em relevo.
A vaidade humana é bem capaz de tocar as raias do infinito, mas o seu saber permanece imperfeito, e, por mais que ele acabe por valorizar os seus próprios juízos, em última análise vê-se obrigado a submetê-los a um tribunal superior. Na guerra,
No Amor é a Alma aquilo que Mais nos Toca
As mesmas paixões são bastante diferentes nos homens. O mesmo objecto pode-lhes agradar por aspectos opostos; suponho que vários homens podem prender-se a uma mesma mulher; uns a amam pelo seu espírito, outros pela sua virtude, outros pelos seus defeitos, etc. E pode até acontecer que todos a amem por coisas que ela não tem, como quando se ama uma mulher leviana a quem se julga séria. Pouco importa, a gente prende-se à idéia que se tem prazer em fazer dela; e é mesmo apenas essa idéia que se ama, não é a mulher leviana. Assim, não é o objeto das paixões que as degrada ou as enobrece, mas a maneira como a gente o encara.
Ora, eu disse que era possível que se buscasse no amor algo mais puro do que o interesse dos nossos sentidos. Eis o que me faz pensar assim. Vejo todos os dias no mundo que um homem cercado de mulheres com as quais nunca falou, como na missa, no sermão, nem sempre se decide pela mais bonita, ou mesmo pela que lhe pareça tal. Qual a razão disso? É que cada beleza exprime um carácter bem particular, e preferimos aquele que melhor se encaixa no nosso.
Sinto falta do verde, o verde é o alimento animais ferozmoral, o verde mantém a suavidade das atitudes e a quietude da alma. Se tirar esta cor da vida, tudo ficará seco e mau. Os es devem seu caráter unicamente ao fato de não viverem entre o verde. Eu, quando encontro um arbusto, tiro-lhe algumas folhas e meto-as no bolso. Depois em meu quarto, olho-as com amor e pego-as carinhosamente.
Ter firmeza de carácter, é havermos sofrido o efeito dos outros sobre nós próprios.
Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.
As cidades não são pátrias. É na província que se encontra o carácter e a mística duma nação, e os grandes escritores deixam-se amarrar ao espírito das terras nulas e sensatas a que extraem um brilho que a pedra polida da capital não tem.
Mesmo que eu observe todos os outros obstáculos (condição física, pais, carácter), obtenho uma desculpa muito boa para não me limitar apenas à literatura apesar de tudo: não posso ousar fazer nada enquanto não tiver um trabalho que me satisfaça plenamente. Isso, é claro, é irrefutável.
A mentira revela alma vil, espírito apoucado e carácter viciado.
Um homem inteligente está perdido se não tem carácter enérgico. Quando se tem a lanterna de Diógenes é necessário ter também o seu cacete.
Pode-se adquirir tudo na solidão, menos o carácter.
A vingança é salutar ao caráter; dela brota o perdão.
A obstinação é o substituto mais barato do caráter.
Civilização e Religião Condicionam-se Uma à Outra
Quando a civilização formulou o mandamento de que o homem não deve matar o próximo a quem odeia, que se acha no seu caminho ou cuja propriedade cobiça, isso foi claramente efetuado no interesse comunal do homem, que, de outro modo, não seria praticável, pois o assassino atrairia para si a vingança dos parentes do morto e a inveja de outros, que, dentro de si mesmos, se sentem tão inclinados quanto ele a tais actos de violência. Assim, não desfrutaria da sua vingança ou do seu roubo por muito tempo, mas teria toda a possibilidade de ele próprio em breve ser morto. Mesmo que se protegesse contra os seus inimigos isolados através de uma força ou cautela extraordinárias, estaria fadado a sucumbir a uma combinação de homens mais fracos. Se uma combinação desse tipo não se efectuasse, o homicídio continuaria a ser praticado de modo infindável e o resultado final seria que os homens se exterminariam mutuamente. Chegaríamos, entre os indivíduos, ao mesmo estado de coisas que ainda persiste entre famílias na Córsega, embora, em outros lugares, apenas entre nações. A insegurança da vida, que constitui um perigo igual para todos, une hoje os homens numa sociedade que proíbe ao indivíduo matar,
O medo depende da imaginação, a cobardia do carácter.
Deve-se julgar da opinião e caráter dos povos pelo dos seus eleitos e prediletos.
A Importância dos Princípios
Entre os homens, alguns há que possuem naturalmente um excelente carácter e que assimilam sem necessidade de longa instrução os princípios tradicionais, que abraçam a via da moralidade desde o primeiro momento em que dela ouvem falar; do meio destes é que surgem aqueles génios que concitam em si toda a gama de virtudes, que produzem eles mesmos virtudes. Mas aos outros, àqueles que têm o espírito embotado, obtuso ou dominado por tradições erróneas, a esses há que raspar a ferrugem que têm na alma. Mais ainda: se transmitirmos os preceitos básicos da filosofia aos primeiros, rapidamente eles atingirão o mais alto nível, pois estão naturalmente inclinados ao bem; se o fizermos aos outros, os de natureza mais fraca, ajudá-los-emos a libertarem-se das suas convicções erradas. Por aqui podes ver como são necessários os princípios básicos. Temos instintos em nós que nos fazem indolentes ante certas coisas, e atrevidos perante outras; ora, nem este atrevimento nem aquela indolência podem ser eliminados se primeiro não removermos as respectivas causas, ou seja, a admiração infundada ou o receio infundado.
Enquanto tivermos em nós esses instintos, bem poderás dizer: “estes são os teus deveres para com teu pai, ou para com os filhos,
É muito mais fácil conservar o caráter do que recobrá-lo.
Observei que o carácter de quase todos os homens parece particularmente adaptado a uma certa idade da vida, de modo que nela se apresenta da forma mais proveitosa. Alguns são jovens amáveis, e depois isso passa, outros, homens enérgicos e activos, dos quais a idade rouba todos os valores. Muitos apresentam-se mais favoravelmente na velhice, quando são mais indulgentes por serem mais experientes e serenos.
Falta de Estudo
Se um homem ama a honestidade e não ama o estudo, a sua falta será uma tendência para desperdiçar ou transtornar as coisas. Se um homem adora a simplicidade, mas não adora o estudo, a sua falta será puro prosseguimento na rotina. Se um homem aprecia a coragem, e não aprecia o estudo, a sua falta será turbulência ou violência. Se um homem elogia a decisão de carácter e não elogia o estudo, a sua falta será obstinação ou teimosa crença em si mesmo.