Textos sobre Tormento de Franz Kafka

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Textos de tormento de Franz Kafka. Leia este e outros textos de Franz Kafka em Poetris.

O Meu Futuro

Do ponto de vista da literatura, o meu futuro é muito simples. O meu talento para retratar os sonhos da minha vida interior empurrou todos os outros temas para o lado, e está de tal maneira enfezado e não deixa de ficar cada vez mais enfezado. Nada mais alguma vez me poderá satisfazer. Mas a força que posso dominar para o tal retrato não é de confiar: talvez até já tenha desaparecido para sempre, talvez volte de novo até mim, se bem que as condições da minha vida não favoreçam tal regresso. E assim vacilo, voo constantemente para a ponta da montanha, mas então caio de repente. Há outros que também vacilam, mas em regiões mais baixas, com mais força; se estão em perigo de cair são apanhados pela pessoa de família que vai ao lado precisamente para isso. Mas eu vacilo nas alturas, não é a morte, infelizmente, mas os tormentos eternos da agonia.

As Queixas dos Pais

É desagradável ouvir o meu pai falar, sempre cheio de insinuações, da boa sorte das pessoas de hoje e especialmente dos filhos dele, dos sofrimentos por que teve de passar quando era novo. Ninguém nega que, durante anos, por não ter roupa de Inverno capaz, ele teve feridas nas pernas, que andou muitas vezes com fome, que quando só tinha ainda dez anos empurrava uma carroça pelas aldeias, até de Inverno e de manhã muito cedo — mas, e isto é uma coisa que ele não compreende, estes factos, juntamente com o de eu não ter tido de passar por tudo isto, não levam a concluir que eu sou mais feliz do que ele, que ele se pode orgulhar das feridas que teve nas pernas, que é uma coisa de que se arroga e que afirma desde o princípio, que eu não posso avaliar os seus sofrimentos e que, finalmente, só porque não passei pelos mesmos sofrimentos, tenho de lhe estar eternamente grato. O prazer que eu não teria de o ouvir falar da sua juventude e dos pais, mas ouvir tudo isto naquele tom de orgulho e agressividade é um tormento. Está constantemente a erguer as mãos: «Quem é capaz de compreender isto hoje!

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